sábado, 22 de setembro de 2012

Os riscos de agendar uma cesárea sem necessidade


Novo estudo mostra que o risco de morte do bebê que nasce antes de 39 semanas é maior do que aqueles que chegam ao fim da gestação.

Cada vez mais os estudos confirmam e alertam o quanto adiantar o parto sem necessidade, mesmo que em poucas semanas, traz riscos para o bebê. Um deles, publicado este mês na revista científica Obstetrics & Gynecology, revelou que antes de 39 semanas há risco de morte para a criança. 





Para chegar a essa conclusão, os cientistas da March of Dimes Foundation, uma organização não governamental que encabeça campanhas nos Estados Unidos para evitar nascimentos prematuros, analisaram mais de 46 milhões de nascimentos, usando dados do National Center for Health Statistics U.S. O resultado revelou que a taxa de mortalidade infantil era de 1.9 para cada 1.000 bebês nascidos na 40a semana de gestação e subia para 3.9 para aqueles nascidos pouco antes, na 37a semana. 

De acordo com Antônio Júlio de Sales Barbosa, ginecologista e obstetra do Hospital Santa Catarina (SP), a pesquisa apenas reforça o que já é sabido entre os obstetras. “São considerados prematuros bebês que nascem com menos de 37 semanas. Mas isso não quer dizer que aquele que chegou até a 37a já possa nascer. Não é bem assim. Eles ainda têm um pequeno cumprimento de maturidade pulmonar a ser vencido – o que acontece entre a 38a ou 39a semana”, diz. 

E o especialista reforça, ainda, que, mesmo na 38a semana, as cesáreas eletivas (agendadas sem necessidade) podem trazer surpresas, ao acarretar em complicações para os bebês, como infecções respiratórias, febre, alteração na temperatura. “Parece que uma semana é pouco, mas para o bebê na barriga é muito”, afirma Júlio. 

Sobre problemas respiratórios, aliás, cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, já haviam mostrado como o risco de complicação acaba sendo maior para quem nasceu antes da hora. Eles avaliaram mais de 230 mil partos feitos entre 2002 e 2008 em hospitais dos Estados Unidos. Cerca de 7 mil bebês tiveram de ser internados em UTIs, sendo que, destes, mais de 2 mil sofreram de problemas respiratórios. Entre os casos de pneumonia, por exemplo, o problema caiu de 1,5% entre os que nasceram de até 38 semanas para 0,1% na 39ª semana. 

No Brasil, a maioria dos nascimentos na rede particular ainda é feita por cesáreas. O maior problema é o crescente número de cesáreas eletivas, ou seja, quando a cirurgia é agendada antes de a grávida entrar em trabalho de parto. Um dos riscos envolvidos é a chance de o médico errar no cálculo gestacional e o bebê nascer prematuro. Com isso, a criança deixa de ganhar peso e de amadurecer os pulmões, e ainda corre o risco de precisar ser internada em uma UTI neonatal por conta da prematuridade. “Muitas cirurgias são feitas sem necessidade, apenas por comodismo, tanto dos pais da criança, que querem se organizar melhor, quanto dos médicos, que não precisam desmarcar consultas para realizar um parto a qualquer momento”, diz Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês (SP). Nos Estados Unidos, dados do March of Dimes mostram que 543 mil bebês (1 a cada 8) nascem prematuramente.

A situação é diferente quando a mãe entra em trabalho de parto e, no meio do caminho, é preciso realizar uma cesárea. A chance de a criança ter problemas pulmonares é menor porque, durante o processo, segundo Pupo, há uma série de transformações que acontecem na criança que a deixam mais preparada para sobreviver fora do útero. “Não se deve interferir num processo natural, a não ser em casos específicos em que há risco de vida para a mãe e o bebê”. A data provável dos partos é em torno de 40 semanas de gestação. E, se mãe e filho estiverem bem, esse prazo pode se estender até 41 semanas e 6 dias. 

Por que o número de cesárea só cresce?

Por falta de informação , incentivo do médico ou até mesmo por medo do parto normal, as gestantes tendem a acreditar que a cesárea é o tipo de parto mais seguro. Mas os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que é justamente o contrário. Um estudo, que avaliou mais de 100 mil nascimentos em países asiáticos, mostrou que as grávidas que passaram por uma cesárea têm mais de sofrer complicações sérias, que podem levar à morte. Caso a cesárea seja realizada antes da mulher entrar em trabalho de parto e sem indicação médica, os riscos são 2.7 vezes maiores do que no parto vaginal, segundo as estatísticas. Já no caso dos partos cirúrgicos feitos antes do trabalho de parto, mas com indicação médica, o número cai para 2.1. 

Ainda assim, se numa roda de conversa com outras mães, você perguntar quem teve parto normal, vai perceber que as estatísticas sobre o parto cesárea no mundo são mesmo alarmantes. Dados do The NHS INformation Centre, na Inglaterra, por exemplo, mostram que 25% dos partos no Reino Unido, entre 2008 e 2009, foram cirúrgicos. Já nos Estados Unidos, em 2005, esse índice já era de 30,2%. No Brasil, os números são ainda mais assustadores. Somente no SUS, 33,25% dos partos realizados em 2008 foram cirúrgicos, de acordo com o Ministério da Saúde, o que representa cerca de 655 mil cesáreas. Todos esses dados contrariam a recomendação da Organização Mundial de Saúde, que determina que esse tipo de parto represente somente entre 10% e 15% do total realizado em um país. 


Os benefícios do parto normal

Para o bebê: esse tipo de nascimento é bom porque segue o processo natural. Ela nasce na hora certa, a não ser nos casos de prematuros. Existem várias evidências e especulações de que o trabalho de parto não é meramente uma atitude física de expulsão do bebê, e sim uma alteração de padrão hormonal em que há liberação de hormônios pela mãe e bebê que sinalizam que o momento de nascer está chegando. Outro beneficio é que o tórax do bebê é comprimido ao passar pelo canal de parto, o que faz com que ele expulse secreções das vias respiratórias, tornando-o mais adaptado a respirar

Para a mãe: além do aspecto psicológico, da satisfação da mulher em poder dar à luz, a recuperação é mais rápida e são menores as chances de complicações após o procedimento, como sangramentos ou infecções, por exemplo.
  

Quando a cesárea é realmente necessária? 

-->Quando a placenta cobre parcial ou totalmente o colo do útero, impedindo a saída do bebê, a chamada placenta prévia; 

--> Caso a mãe tenha herpes genital com lesão ativa até um mês antes do parto; 

--> Em casos raros de doenças cardíacas; 

--> Se o bebê está atravessado, mas antes é possível tentar ajudá-lo a ficar na posição correta; 

--> Nos casos em que a gestante tenha aids com varga viral muito alta ou desconhecida; 

--> Quando há descolamento prematuro de placenta; 

--> Se a abertura do colo da mãe é pequena para o bebê, algo que ocorre em menos de 5% dos partos; 

--> Nas situações em que o cordão umbilical penetra no canal de parto antes do bebê; 

--> Se há diminuição drástica no fluxo de oxigênio ou nos batimentos cardíacos, o que ocorre em apenas 1% dos partos. 

Fonte: 300 respostas da Crescer sobre gravidez



Lista de Riscos da Cesariana

Para o bebê:
  1. Risco de complicações e desconforto respiratório
  2. Demora maior para o leite "descer"
  3. Maior probabilidade de aspiração com cânulas no bebé após o parto (vias aéreas e orais)
  4. Risco de morte 10x maior para o bebé
  5. Grande probabilidade do bebé ficar longe da mãe após nascer
  6. Maior risco de infecção neonatal por aspiração de mecónio
  7. Maior dificuldade no aleitamento
  8. Maior probabilidade de desmame precoce
  9. Lesão do bebé (na hora da cesariana)
  10. Maior risco de morte fetal inexplicável no final da gestação seguinte
  11. Dificuldades de vínculo com a mãe
  12. A mãe pode precisar de analgésicos fortes para aliviar a dor no pós-parto e estes podem passar para o bebé através do leite
  13. Maior risco de internamento do neonato em UTI
Para a mãe:
  1. Risco de ruptura uterina aumentada no próximo parto, caso sejam utilizadas oxitocina artificial no soro e/ou anestesia.
  2. É difícil encontrar um médico que faça partos normais após cesarianas pois são dependentes das drogas citadas acima
  3. Risco de morte 4x maior
  4. Risco de infecção hospitalar
  5. Pós-parto demorado e dolorido.
  6. Depois o desconforto da cirurgia, a dor, a maior dependência de outras pessoas para cuidar do bebé.
  7. Dificuldades para engravidar posteriormente, maior risco de infertilidade posteriormente
  8. Risco de endometriose
  9. Risco de hemorragias, transfusões e morbilidades provocadas por transfusões
  10. Sensibilidade na cicatriz a longo prazo (coceira, dor, sensação de estiramento, etc.)
  11. Dormência na região entre a cicatriz umbilical e corte cirúrgico.
  12. Formação de Aderências
  13. Aumenta as probabilidades do próximo parto ser cesariana
  14. Lesão no intestino (na hora da cesariana)
  15. Maior Risco de trombose doenças correlatas (incluindo embolia)
  16. Risco de acidentes com anestesia
  17. Risco da anestesia não pegar e ter que fazer uma anestesia geral
  18. Maior incidência de Inserção Baixa de Placenta
  19. Maior probabilidade de Acretismo Placentário
  20. Histerectomia (perda do útero) devido ao sangramento
  21. Maior necessidade de transfusão sanguínea
  22. Morte materna devida a hemorragia, consequente a inserção baixa de placenta
  23. Maior risco de atonia uterina
  24. Maior risco de embolia pulmonar
  25. Maior risco de trombose venosa profunda
  26. A próxima gravidez não mais será de baixo risco
  27. Risco de reiteradamente, recuperação por infecção da cicatriz, deiscência de pontos, sangramentos, etc.., com consequente afastamento do bebé
  28. Dificuldades de vínculo com o bebé
  29. Não realização da plenitude da maternidade.
  30. Maior índice de depressão pós-parto
Se a cesariana foi feita antes do trabalho de parto, marcada com antecedência pelo médico, além dos riscos acima podemos adicionar:
  1. Risco de prematuridade do bebé
  2. Um desrespeito monstruoso e uma tremenda violência à mãe e ao bebé
  3. A perda da oportunidade da primeira descoberta de sua própria força e capacidade de luta
  4. A perda da energia que estava sendo guardada para o momento do parto, que gera frustração
  5. A perda da oportunidade de vivenciar uma situação que lhe daria noção de foco, de fazer esforço numa direcção e sentido correcto
  6. Quem convive com essas consequências de uma desnecesaria, aprende as verdades da vida de uma forma muito dolorosa... e demorada.
  7. Segundo os astrólogos (para quem curte o tema), o bebé nasce com uma dualidade na personalidade (situação astrológica natural x situação astrológica forçada)

    terça-feira, 11 de setembro de 2012

    Palestra da parteira Ina May Gaskin sobre Parto Natural

    Ina May Gaskin é uma parteira americana que combina a prática do parto tradicional com um profundo interesse e respeito pela psicologia e fisiologia humanas. Desde a década de 60, quando viajava em grupo em busca de uma terra onde pudessem se assentar, até os dias de hoje, Ina May e suas colegas parteiras já atenderam a mais de 3 mil partos domiciliares na comunidade onde vivem, no Tenessee, EUA. Ela é autora de dois livros best sellers, "Spiritual Midwifery" e "Ina May's Guid to Natural Childbirth". É uma conferencista aclamada em todo o mundo e mistura um aguçado senso crítico com uma boa dose de humor inteligente. 
    (http://www.maternidadeativa.com.br/inamay.html)


    Tenho muito apreço pela palestra abaixo, além da grande qualidade, foi o primeiro vídeo que me puxou para o mundo da humanização do parto e da maternidade, anos atrás. Esse vídeo já foi postado em vários blogs, e a Flavia Mandic traduziu seu áudio para o português para que mais pessoas pudessem ter acesso. Não satisfeita apenas com o texto escrito, eu usei a tradução da Flavia (com algumas adaptações minhas) e coloquei em legendas, para que todos possam aproveitar a genialidade dessa parteira.

    Ina May defende que o parto é uma experiência natural do ser humano, e que tudo flui mais fácil se estamos acolhidas em um ambiente ideal (e com boas emoções) e podemos nos entregar ao momento. Ela nos fala dos hormônios do amor, de nossa capacidade de introjetar o novo, da timidez de nossos esfincteres e de como nossa cabeça (e uma assistência ruim) podem travar o parto. Ina May nos lembra que também somos mamíferas, e que guardamos os mesmos instintos de proteção e fuga dos animais. Tantas reflexões importantes que hoje são tão esquecidas no ambiente médico. Vale a pena assistir à palestra!

    *a legenda fica melhor visualizada na opção de tela média (entre a pequena tradicional e fullscreen, é só clicar lá no youtube)

    Parte 1


    Parte 2


    Parte 3




    *Um vídeo extra com uma entrevista com ela, também legendado

    A Mayra Calvette, enfermeira obstetra (parteira) brasileira que acompanhou o parto domiciliar da Gisele Bundchen está produzindo um documentário chamado "Parto pelo Mundo", e a Ina May é uma das entrevistadas. Mais reflexões interessantes:






                                                 "Nós não queremos nossas mães assustadas, nós queremos que elas tirem da experiência de parto uma sensação do seu poder". Ina May Gaskin



    Questionário para detectar se o seu médico é cesarista

    Infelizmente no Brasil muitos médicos não passam a informação correta (baseada em evidência científica) e atualizada para as gestantes, e muitos usam argumentos FALSOS e mentirosos para enganar uma mulher, fragilizando-a para leva-la a uma cesariana desnecessária.
    Por isso no Brasil temos que estar bem munidas de informações, e fazer perguntas pertinentes ao médico para "sentir" se ele é do tipo que vai te passar a perna na reta final. (Geralmente as doulas da sua cidade sabem quais médicos são mais humanizados, e se o seu atual médico não está na lista delas, desconfie!).

    Encontrei esse questionário no grupo Gravidez, Parto e Maternidade do orkut (que hoje está no facebook https://www.facebook.com/groups/149080898559946/) e achei bastante útil para que as mulheres fixem em suas mentes as informações importantes.




    Médicos "vaginalistas", aqueles que "fazem" (quem faz de fato o parto é a mulher né) parto (a)normal, cheio de intervenções, mas não te enfiam uma cirurgia goela abaixo a qualquer custo, geralmente dão respostas perigosas, para garantir uma boa experiência de parto, não se apegue ao seu médico "fofinho", da família, nem ao seu plano de saúde, vá atrás de quem realmente vai te ajudar a ter essa experiência única respeitada, não tenha medo de trocar de médico quantas vezes forem necessárias, lembre que o parto é seu!

    Questionário 1:

    1) Até quantas semanas você espera o meu parto? 

    resposta certa: até 42 semanas (ou 41 semanas mais alguns dias)


    resposta perigosa: até no máximo 41 semanas

    resposta cesárea garantida: até 40 semanas

    2) Se eu chegar nessa data limite, com o colo do útero fechado e grosso, o que acontece?

    resposta certa: podemos induzir no hospital


    resposta perigosa: a gente "tenta" induzir no hospital.

    resposta cesárea garantida: a gente faz a cesárea

    3) Quanto tempo você espera até a indução pegar e eu conseguir um parto normal? 

    resposta certa: pode levar até 48 horas, se o colo estiver fechado


    resposta perigosa: de 10 a 24 horas

    resposta cesárea garantida: menos que 10 horas

    4) Se a bolsa romper sem trabalho de parto, qual é a sua conduta?

    resposta certa: espera em casa até entrar em trabalho de parto, até umas 48 horas depois da bolsa romper, vamos monitorando o bem estar seu e do bebê


    resposta perigosa: espera em casa até entrar em trabalho de parto, até umas 12 horas depois da bolsa romper, depois vai pro hospital induzir

    resposta cesárea garantida: vai direto para o hospital, que a gente vai ter que induzir (ou fazer uma cesárea)5) Até quantas horas pode durar o meu parto depois dos 4 ou 5 cm de dilatação?

    resposta certa: só Deus sabe! de 2 horas até 2 dias


    resposta perigosa: 7-12 horas

    resposta cesárea garantida: qualquer número menor que 7 horas

    6) Até quantas horas pode demorar para o bebê nascer depois que eu chegar nos 10 cm de dilatação?

    resposta certa: só Deus sabe! de 2 a 6 horas, mas já tive casos de 10
    horas...

    resposta perigosa: de1 a 2 horas

    resposta cesárea garantida: qualquer número menor que 1 hora

    7) Diante de quais situações você indica cesárea? (qualquer uma dessas
    assinaladas está errada)


    ( ) se tiver mecônio no líquido amniótico

    ( ) se o bebê for maior que 4 kg

    ( ) se o bebê for maior que 3,5 kg

    ( ) se tiver circular de cordão no pescoço do bebê

    ( ) se minha pressão subir

    ( ) se eu não tiver dilatação com 40 semanas e o bebê estiver alto

    ( ) se meu trabalho de parto estiver muito demorado, mas o bebê
    estiver bem

    ( ) se o bebê tiver desacelerações do coração durante as contrações
    (mas não tiver nos intervalos das contrações)




    Você que está grávida, questione, pergunte, desconfie, se informe!!!


    O site "Amigas do Parto" também tem um questionário bem humorado (daquele estilo de revista adolescente)  pra gente "testar" (claro que não vamos levar o questionário para o médico) nosso obstetra. Vale a pena pensar nas questões dele também, foi elaborado pela obstetriz Ana Cristina Duartehttp://www.amigasdoparto.com.br/teste.html



    Essa é uma lista bem humorada de perguntas a se fazer ao seu obstetra. Na verdade é um teste para verificar que tipo de médico ele é: do mais intervencionista ao mais liberal. Apesar do tom informal, as "respostas certas" foram inspiradas nas evidências científicas e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde.

    Questionário 2:

    1) Qual a sua postura em relação à "cesárea x parto normal"? 
    a) O parto normal é o melhor, mas só dá para saber na hora.
    b) Hoje em dia não faz sentido ter bebê por parto normal, com as técnicas de cirurgia tão avançadas e seguras. A recuperação é rápida e graças aos novos antibióticos, antinflamatórios, antitérmicos e analgésicos, você pode ter uma vida quase normal em menos de 2 meses.
    c) O parto normal é melhor, mas na sua idade (ou com o seu peso, ou nessa época do ano, ou para uma pessoa sensível como você) a cesárea é mais garantida.
    d) O parto normal é melhor e pelo menos 90% das mulheres podem dar à luz naturalmente. Você também tem tudo para ter um parto normal e nós vamos nos preparar para isso!

    2) Quais intervenções no parto você considera essenciais? 

    a) O que eu uso nos partos é o soro com ocitocina (hormônio) para acelerar as contrações, episiotomia (corte no períneo) e rompimento da bolsa aos 5 cm de dilatação. Mas às vezes tenho outras idéias durante o parto. Depende do dia e dos meus compromissos.
    b) Eu uso as intervenções apenas em raros casos, até porque a maioria delas podem ter efeitos colaterais indesejáveis. A natureza pensou em tudo, para a grande maioria das mulheres.
    c) Só a anestesia, porque acho que a mulher não deve sentir dor. O resto varia de mulher para mulher.
    d) Só a episiotomia, porque o parto pode destruir a vagina da mulher e provocar incontinência urinária.

    3) Em que posição posso dar à luz? Posso ter um parto de cócoras? 
    a) Ra ra ra ra.... Parto de cócoras? Você não é índia, é? A mulher de hoje não tem musculatura para ficar de cócoras. Você quer ser partida ao meio, minha filha?
    b) Semi-reclinada, pois no centro obstétrico da maternidade onde atendo, tem uma mesa de parto que permite que a paciente eleve um pouco as costas.
    c) Da forma que você se sentir mais confortável, podendo ser de cócoras, de quatro, de lado ou de outro jeito que você inventar. A única posição que eu procuro não incentivar é deitada, porque o bebê pode ter o suprimento de oxigênio comprometido.
    d) Como assim? Existe outra posição para dar à luz que não seja deitada?

    4) Qual será sua postura caso eu recuse alguns procedimentos que você esteja recomendando?
    a) O parto é seu. Você decide o que é melhor. Se eu indicar um procedimento, vou te explicar porque, vantagens e desvantagens, mas quem tem que resolver é você.
    b) Eu não recomendo procedimentos. Eu faço. Na hora do parto você não tem condições de discutir o que é bom para você. Aliás, desde o início da gravidez a mulher tem o comportamento alterado, bem como a capacidade de discernimento.
    c) Eu terei que abandonar o atendimento e chamar um plantonista, pois não quero me responsabilizar pelas desgraças que podem acontecer ao seu bebê.
    d) Você não tem o direito de recusar um procedimento que está sendo prescrito para o bem do seu bebê.

    5) Até quanto tempo você espera na gestação, antes de indicar procedimentos por "passar da data"?
    a) Eu espero até 40 semanas. Depois disso faço a cesárea. Nem tento a indução, porque é tempo perdido. Ou você prefere arriscar a vida do seu filho e viver com esse peso pro resto dos seus dias?
    b) A gestação normal vai de 38 a 42 semanas. O que eu proponho é um cuidado mais intenso depois que passa de 41 semanas. Mas a princípio, enquanto o bebê e a placenta estiverem bem, eu não faço nada. Passadas 42 semanas, podemos começar a pensar em indução do parto.
    c) Eu espero até 40 semanas. Depois disso interno para induzir com soro.
    d) Eu espero até 41 semanas e depois interno para induzir com citotec.

    6) Você tem o hábito de pedir permissão e informar tudo o que você acha necessário fazer durante a gestação e o parto? 

    a) Como assim, pedir permissão? Eu estudei 10 anos, trabalho há 15 anos com partos e sei o que estou fazendo. Se for pedir permissão para fazer tudo, vou passar o dia nessa lenga-lenga com minhas pacientes.
    b) Só peço permissão quando acho que o procedimento vai doer.
    c) Não faço nem um exame vaginal sem pedir permissão, pois o corpo é seu, o parto é seu. Meu dever é fazer o melhor, desde que você me permita e entenda o que está acontecendo.
    d) Depende do dia, pois às vezes depois de 2 plantões seguidos, eu fico meio impaciente.

    7) Qual é a sua taxa de cesáreas?

    a) Não sei, não tenho contado ultimamente... Se é alto? Não considero alto, porque hoje em dia as mulheres só querem cesárea. A culpa não é minha. Elas já chegam com uma idéia pré-concebida.
    b) Minha taxa de cesárea é baixa, cerca de 40-45%...
    c) A taxa é de 20%.. De partos normais..
    d) Minha taxa de cesárea está perto de 25%, o que ainda considero alta, mas estou tomando algumas providências para tentar baixar para os 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde

    8) Posso levar meu marido e uma acompanhante (doul a) para o meu parto?
    a) Por mim você pode levar qualquer pessoa que faça você se sentir segura e tranqüila.
    b) Porque? Você vai dar uma festinha no centro obstétrico? Quer ver seu marido desmaiando? Eu acho que um acompanhante já é muito.
    c) Pode levar só o marido, mas só depois que ele fizer a preparação comigo, porque eu quero um aliado, não um inimigo me vigiando.
    d) Não, eu acho que acompanhantes atrapalham, perturbam o ambiente, fazem muita pergunta, deixam a mulher insegura, ficam questionando o médico. Eu não atendo a família, eu atendo a gestante!

    9) Você acha possível um parto normal depois de uma cesárea? 
    a) Você está louca? Quem andou falando uma bobagem dessas para você? Deixa disso, minha filha, isso é coisa de natureba inconseqüente.
    b) É possível, mas tem que usar fórceps para não ter um período expulsivo prolongado.
    c) É possível se o trabalho de parto não passar de 4 horas.
    d) É possível e é uma ótima opção, com grandes chances de dar certo.

    10) Você acha que tendo uma gestação de baixo risco posso ter meu bebê em casa? 
    a) Sim, o local do parto deve ser escolhido por você e seu marido. Se essa f or sua opção, devemos tomar algumas precauções, como ter um hospital relativamente perto para o caso de precisarmos de remoção. Mas geralmente não há necessidade.
    b) Sim, mas eu não atendo partos domiciliares. Posso tentar te indicar um médico que faça.
    c) Você enlouqueceu? Quer matar seu bebê? Quer se matar? Já pensou como é agradável sangrar até a morte com sua família te olhando sem ter o que fazer?
    d) Sim, mas é muito arriscado. Muito mesmo. Você está com idéias muito românticas sobre o parto. Deveria fincar os pés no chão.

    11) Devo fazer um curso de preparação para o parto? 

    a) É bom, não porque você não sabe o que é certo, mas o curso vai te dar dicas preciosas, vai te dar boas sugestões para um parto agradável, vai te dar dicas de amamentação. No mais, você vai entrar em contato com outras gestantes, o que pode ser uma experiência bastante enriquecedora.
    b) Bobagem. Na hora eu te digo o que é certo ou errado. Eu estudei 10 anos, pratiquei mais 15 e te garanto que sei fazer um parto. É só você ficar deitada quietinha que tudo vai dar certo.
    c) Faça apenas o curso do hospital, para saber onde é a entrada, como são as rotinas do hospital, como se comportar e o que esperar.
    d) Tanto faz. Você também pode ler essas revistas para mãezinhas que tem todas as dicas que você precisa de enxoval, decoração, exames médicos e tal.

    12) Quantos exames de ultrassom eu devo fazer ao longo da gestação?
    a) O ideal é fazer em todas as consultas e por isso eu já tenho um aparelho aqui no consultório. A gente já vai vendo a carinha do bebê, como ele se mexe, todas as partes do corpo e tudo o mais.
    b) Você deve fazer pelo menos 4 para ver se o crescimento do bebê está bom.
    c) Eu recomendo fazer o menor número possível de exames, pois ainda não foi totalmente provado que o ultrassom é inóquo. Algumas pesquisas apontam para uma posssível alteraçao no cérebro em bebês que passam por muitos exames na gestação. Só vou pedir esses exames se tivermos que confirmar algum diagnóstico.
    d) O máximo que o seu plano de saúde permitir antes de vir aqui me atazanar a paciência.


    Resultados - some os pontos:
    1- a(2) / b(1) / c(2) / d(3)
    2- a(1) / b(3) / c(2) / d(2)
    3- a(1) / b(2) / c(3) / d(1)
    4- a(3) / b(1) / c(2) / d(1)
    5- a(1) / b(4) / c(2) / d(3)
    6- a(1) / b(2) / c(3) / d(1)
    7- a(1) / b(2) / c(1) / d(3)
    8- a(3) / b(1) / c(2) / d(1)
    9- a(1) / b(2) / c(2) / d(3)
    10- a(3) / b(2) / c(1) / d(2)
    11- a(3) / b(1) / c(2) / d(1)
    12- a(1) / b(2) / c(3) / d(1)

    Se seu médico fez entre 12 e 20 pontos: Fuja, saia correndo, ligue dizendo que você não está grávida, era um engano, foi apenas má digestão. Você tem certeza que ele tem um diploma válido em território nacional? Ter um parto com esse médico e sair ilesa é tão garantido quanto acertar na Megasena, sem ter comprado um bilhete.

    Se seu médico fez entre 21 e 30 pontos:
     É melhor você trocar de médico e procurar alguém mais antenado com as novas tendências em atendimento obstétrico. Seu médico pode até ser bem intencionado, mas definitivamente é mal informado. Pode ser que dê um bom ginecologista, mas como parteiro deixa muito a desejar!

    Se seu médico fez entre 31 e 37 pontos:
     O cara é fera, conhece e aplica as recomendações da Organização da Saúde e as evidências científicas. Aparentemente evita procedimentos médicos que podem atrapalhar o trabalho de parto. É respeitoso e honesto. Parece um cara do bem, um bom partido. Me arruma o telefone dele?

    sexta-feira, 27 de julho de 2012

    Romance no Puerpério (Título Troll)

    Esse texto foi escrito pela Mah Gatti Araujo. Uma forma bem humorada de contar um pouco a experiência de ser mãe de um recém nascido.
    Eu dei boas risadas lendo o texto dela, e minha ideia de compartilha-lo aqui não é assustar as mães de primeira viagem, mas mostrar que da trabalho mesmo, é normal, e vocês sobrevivem!


    Divirtam-se!

    Ah, gente. Votecontá. 
    Isso aqui tá é meio que A maternidade e o encontro com a Lei de Murphy.
    Compêndio de algumas das minhas desventuras como puérpera (recém parida). 
    Um desabafo, que seja!

    A começar que ninguém (mais) faça a proeza de levar desodorante spray pra maternidade. Antitranspirantes não costumam ser nutritivos para bebês, nem um pouco!! E pois é, eu tive que afogar meu impulso de usar essas coisas cheirosas. E no começo sempre esqueci e entupi o peito de sabonete. Quando finalmente a gente se adestra a não passar sabão no peito, acaba tomando banho sem nenhum tipo de sabão. E quando quiser voltar pro box pra fazer o serviço direito o bebê já estará chorando. É batata, é entrar no Box ou tentar fazer xixi ou um nº2, o bebê vai chorar!

    O box é o lugar das primeiras descobertazinhas do pós-parto. A gente acha um barato enxergar o pé de volta (já ver a unha do dedão com talento pra furar meia nem tanto). A gente deve ficar ainda mais feliz quando consegue enxergar os pêlos pubianos de volta. (Mmmmff.. Quando, senhor? Quando?)

    Pois é, lembra que o bebê tava chorando? Então corre procurar uma calcinha, pelo menos. Surpresa! Você não precisa mais usar só aquela quase-fralda-de-algodão-branca-com-um-super-elastico- Porque algumas das outras já te servem! Mas nem todas conversam legal com os absorventes pós-parto. Esse, aliás, vai parecer um monstro... Mas você vai sangrar monstruosamente. E bem quando você achar que não precisa mais deles, a vida se encarregará daquele momento super inconveniente.. Talvez com as visitas no sofá da sua sogra.
    Toda pessoa saberá mais sobre seu filho do que você! E vai sentir muita raiva daquela primeira pessoa super presunçosa imitando irritantemente a “voz” do seu filho: "Mamãe, eu tô cum flio".
    Cara de alface amiga! Faça cara de alface, sorria e acene!

    Um recém nascido dá bem mais trabalho do que qualquer outra coisa com a qual você já tenha comparado até hoje. Não, eles não dormem sozinhos. Sim, eles sabem quando você está sentado ou de pé. Não, você não conseguirá enganá-los. E os primeiros dias de anjinho só duram até o primeiro pico de crescimento. Não saia dizendo que seu(sua) filho(a) dorme a noite toda. Que ele é um amor. Pq você vai ter que desmentir muito em breve!

    Enquanto você der mamá num peito, o outro peito vai vazar um mooonte. E na hora mais conveniente, tipo enquanto você tá na praça de alimentação de um shopping. 
    E vc vai tirar a concha de amamentação do peito, porque acha que ela já encharcou. E você tinha razão, ela encharcou um pouquinho do seu sutiã, sua roupa, sua barriga, sua calça, seu sling... Com a única mão sobressalente (isso se tiver uma), você tenta tirá-la. Cuidado, cuidado, cuidado e fzzzzzz num supetão ela finalmente desgruda. E vaza toda, todinha. Metade cai na tua roupa e a outra cai no chão da Livraria. Sim, todo mundo vai te olhar.

    Com sorte a outra metade ficou na concha. E você pede pro marido se livrar do troço e trazer limpo. Ele até volta com a concha lavada, mas MOLHADA. Você coloca a bendita de volta. Daí você dá o mamá, troca o bumbum, levanta pra embalar o bebê e cai a fraldinha de boca no chão. Você agacha pra pegar a coisinha e ho ho ho! O jorro lácteo no chão. Sua produção vespertina jaz todinha no carpete da loja do shopping.

    Daí você percebe que esse negócio de concha dá muito trabalho e passa a adotar uma fralda descartável pra cada peito. E vai fazer as contas e concluir que umas DiPano (aquelas fraldinhas de pano modernas lindas) ainda valeriam a pena.  Então você lembra daquele monte de fraldinha Cremer que não rola mais usar no bumbum já que a diarista encheu de Confort. E usa a Cremer no peito que nem massa pra empadão. E funciona! E funciona bem! A fralda de pano, por mais encardida, úmida.. Dá conta do leite prestes a escorrer.

    Mas justo quando a gente estiver dando mamá o peito desocupado vai começar a escorrer (porque o bebê assopra, segundo meu esposo). E neste momento a fralda NUNCA estará presente. Você vai pegar qualquer coisa ao alcance. Uma camiseta suja ou um body recém-lavado... Faz negócio até com a toalhinha de crochê pra não se melecar de volta. 

    Mas é, você vai viver melecada. Sua mão, antes cheirando a alho ou cebola, agora tem cheiro de hipoglós. Hipoglós com alho e cebola.Você vai se acostumar a feder leite. Leite azedo. E a fralda que tava ali, afinal.. Já tá azeda demais. 

    Então você grita pro marido, o salva pátria, trazer uma fralda. Aí o parvo chega com.. Adivinhe? Uma PAMPERS!
    (E vai fazer as contas e concluir que umas DiPano ainda valeriam a pena). Então você já pega a fralda da mão dele, fuzilando com o olhar (e com a sutileza de um abacate) e resolve mesmo trocar o bebê de uma vez.

    Porque é bem quando o bebê tá mamando que a gente vai perceber o xixi chegando. A gente sente "um quentinho" na fralda. Ou você vai ouvir o cocô. Muito, muito sonoro. Vai pensar se é normal tamanha potência anal. A quantidade de decibéis te surpreende. E vai ser bem na hora em que o bebê for conhecer a bisavó. O pai da criança vai rir e você vai fazer cara de bunda, e vai dizer que "Ah, já tá mesmo na hora de trocar!"

    Mentira. Faz nem 5 minutos que você trocou. Aliás, dúvida muito cruel trocar a fralda. Troco agora ou espero ele(a) fazer mais? Será que ele(a) vai fazer mais? Ele(a) CONSEGUIRIA fazer mais? Sempre que essa dúvida aparecer, você vai escolher trocar o bumbum para não sentir culpa por conta de uns centavos que cada fralda custa. (E vai fazer as contas e concluir que umas DiPano ainda valeriam a pena).

    Sempre que você fizer isso para não sentir culpa, o bebê VAI fazer cocô quase que imediatamente naquela fralda limpinha que você acabou de colocar. E você pensa se coloca a fralda boa ou a ruim. Se colocar a boa ela vai melar de cocô imediatamente. Se colocar a ruim Murphy não perdoará: Vai ficar lá por horas. Sequinha. 

    Depois de um tempo você aprender a trocar a fralda DEPOIS da mamada. E daí você, que já sentou pra trocar a fralda 5 minutos antes e, portanto, já gastou a descartável que deixou à mão, vai gritar pedindo mais uma fralda pro marido. O abençoado chega com uma fralda de boca. Você geme e troca gentilezas. Ele sai de perto ofendido e injustiçado. Você fica sem ninguém por perto para apagar a luz. O bebê tá se aquietando, dane-se a luz.

    A criança apagou. Você se vê diante daquele soninho precioso, e começa a bolar um “phoderoso” esquema pra se movimentar.
    E acaba esperando. Deixa pro próximo minuto, pros próximos dez. Pra próxima meia hora. E quando vê virou pedra. Suas costas agora são feitas de metal, teus braços estão dormentes. Suas pernas não te pertencem mais porque para ajudar tem um gato dormindo nelas. Ou dois gatos...

    Então você reza pro marido aparecer. Ele tá de mal, lembra? Dane-se. Você chama ele baixinho. Ele não ouve, você chama mais alto. O bebê acorda. Você fica brava e "de castigo" põe ele pra embalar o bebê. A criatura embala o bebê com a mesma delicadeza que faria com um iogurte. Você grita um "não sacode assim porque ela mamou agora!" e o indisposto se põe a reclamar que ele não sabe fazer nada mesmo. 

    Você deita o bebê na barriga do meliante, e o bebê dorme! Ufa. Cuidado com os pensamentos agora. Se você pensar por 5 segundos consecutivos vai cutucá-lo no astral. Ele vai acordar mesmo que você esteja agradecendo aos céus pelo seu sono... E nessa hora nem Jesus salva.

    sexta-feira, 29 de junho de 2012

    Por que NÃO escolher uma cesariana

    Por Ana Cristina Duarte - Obstetriz
    https://www.facebook.com/notes/ana-cristina-duarte/sobre-a-escolha-da-cesariana/510313185684198



    Antes de mais nada, preciso pontuar cinco idéias rápidas: primeiro, entendo que a cesariana por escolha é um direito da mulher, ela tem direito e ela pode fazer e pronto. Segundo, a via de parto e a amamentação não definem a qualidade da mãe ou da maternagem. Terceiro, o objetivo dessa conversa não é trazer culpa a quem escolheu ou vai escolher, mas sim conhecimento para quem quiser entender essas opções. Quarto, algumas cesarianas são necessárias e paciência, não há o que se fazer, pois a vida da criança é mais importante. Quinto, a maioria das cesarianas indicadas nos serviços privados de saúde são sob falsas alegações, mas não tem como a mãe saber disso.

    1) Uma das maiores razões para as mulheres escolherem a cesariana é a questão da dor. Deixando de lado todo o resto, acho que esse ponto é mesmo nevrálgico e merece uma atenção especial. Como o objetivo aqui é ser curta (e não grossa), lembro que hoje em dia existem analgesias muito boas que podem ser usadas a qualquer momento que a mulher deseje. Se quiser ter um trabalho de parto inteiro sem sentir nada (o que seria uma pena, mas é um direito e às vezes a única maneira de enfrentar o medo da dor), exija a presença de um bom anestesista. Fora isso, lembre-se que as coisas começam a ficar intensas mesmo depois da metade do trabalho de parto. Antes disso são apenas umas cólicas rápidas e curtas, perfeitamente suportáveis. A vantagem é que quando o parto acabar, você não está operada. Você levanta e vai cuidar da vida sem qualquer preocupação com uma cirurgia. Claro que você pode levantar e cuidar da vida após a cesariana. [Além disso existem métodos não farmacológicos de alívio de dor, massagens, posições, acupuntura, água quente do chuveiro na lombar (ou de uma banheira), estar se sentindo apoiada, segura e acolhida, tudo isso contribui para que a dor seja menor, a presença de uma doula pode ajudar]

    2) Outra razão comum é achar que o bebê corre menos risco na cesariana. Já existem tantos estudos científicos mostrando o quanto é maior o risco da cesariana para o bebê, que não vou poder enumerar aqui. Se você está na dúvida e só falta essa questão para escolher um parto normal, informe-se. A quantidade de vantagens para o bebê no parto normal é provada em todos os artigos, sem exceção. Não estou dizendo que nada acontece no parto normal, mas sim que muito mais coisas negativas podem acontecer na cesariana e que, portanto, ela é muito mais arriscada e menos benéfica para o bebê e para a mãe.

    3) Tem gente que pensa que o parto normal é pior para a mãe. Essa informação não procede. Qualquer livro de medicina deixa isso bem claro. A mortalidade e a morbidade da cesariana é bem maior para a mãe. Posso atestar que o parto normal não vai fazer você ficar diferente "lá embaixo". Na dúvida, conheça o site www.mulheres.org.br/fiqueamigadela. E se estiver ao seu alcance, exija um parto sem episiotomia. 

    4) Embora o parto não defina a qualidade da maternagem, e não defina quem vai ser aquela pessoa, o fato é que há uma grande diferença pra o bebê entre ser retirado do útero materno sem aviso prévio, sem os hormônios que o preparam para a vida fora do ventre materno, e permitir que ele passe pelo processo de forma natural, fisiológica, cumprindo as metas que a natureza selecionou durante mais de cem mil anos. O parto não é, para o bebê, uma perigosa tormenta, mas sim um caminho muito previsto e importante para prepará-lo para a vida. Assim como podemos evitar que bebês engatinhem para não se sujarem, colocando-os em andadores (que a sociedade brasileira de pediatria já atesta serem prejudiciais para o desenvolvimento do bebê), e eles não serão pessoas piores ou infelizes por isso, o fato é que esse tipo de salto não é benéfico e não tem como calcularmos objetivamente e em números concretos aquilo de que o bebê está sendo privado. Podemos sempre nos repetir e acreditar que são apenas minutos ou horas, e que isso não faz diferença na vida nossa ou deles. O melhor seria, no entanto, que todas nós tivéssemos acesso a um bom parto, para podermos oferecer aos nossos filhos e a nós mesmas um bom processo de nascimento. Até mesmo o choro de um bebê retirado de forma repentina e levado para um berço aquecido para os "procedimentos" é completamente diferente daquele que nasce devagar, sem pressa, na água, na cama, e é colocado imediatamente em contato pele-a-pele com sua mãe. Se achamos ruim deixar a criança chorando sozinha no carrinho "para acostumar", porque seria normal deixar um recém nascido se debater num berço iluminado cercado por estranhos que lhe inserem tubos no nariz, na boca, no ânus, e lhe pingam colírio cáustico e lhe picam a perna com uma injeção oleosa? Porque achamos que isso não faz qualquer diferença para a construção do indivíduo?

    5) Por fim vem a questão mais importante para mim, que é o parto como um evento, e não como uma obrigação. O parto não é apenas o preço que temos que pagar para sermos mães de um bebê. Podemos inclusive adotar e sermos mães adotivas maravilhosas. No entanto o parto pode ser, por si só, um processo muito bom, divertido, intenso, cheio de momentos incríveis, para toda a família. Até os irmãos mais velhos podem ajudar e se sentir participantes dessa festa. O parto é algo que você pode recriar em sua mente, tentando esquecer aquelas histórias horrorosas que te contaram desde que você nasceu, porque essas histórias são de um modelo de assistência que não precisa ser utilizado. Você pode desejar, escolher e exigir um bom parto. Planeje, escolha pessoas interessantes e um modelo de assistência no qual você acredite. Fuja do estereótipo da mulher gritando nua na sala com as pernas abertas sob os holofotes e uma equipe de 12 homens olhando para o meio delas e colocando seus dedos e ferros nervosos lá dentro. Parto não é isso (ou não deveria ser isso). Existem opções. Natural ou com analgesia, mas com muito respeito, decência, privacidade, delicadeza, o parto pode ser um maravilhoso portal para inaugurarmos a maternidade. Pode ser também uma oportunidade impar para se superar os limites, para conhecer novas fronteiras. O bom parto não é uma obrigação. É apenas um direito de toda mulher e de todo bebê.

    6) O parto pode ser ou pode não vivenciado. O nascimento vai ocorrer, sempre, e o bebê vai ser muito amado independente de onde saia. O fato é que no Brasil é uma escolha que as mulheres têm, parir ou não parir, eis a questão. Você pode, se quiser, fazer uma escolha diferente e transformar o parto num lindo evento. Mais ou menos como o casamento, você pode viver com alguém sem qualquer cerimônia simbólica. O objetivo da cerimônia é mais do que dar trabalho e fazer a gente gastar um dinheiro enorme, e não é ela que define a qualidade do casamento. O objetivo é marcar o evento, transformar num dia marcante, porque os outros que virão estarão repletos de bons e maus momentos, e vai ser maravilhoso poder voltar naquele dia e lembrar "do dia em que nos casamos". Claro que ir morar junto, levar a mobília e guardar as escovas de dentes juntos tem todo um valor simbólico. Afinal foi "o dia em que fomos morar juntos". Não dá para dizer que é a mesma coisa que fazer uma cerimônia, essa é a verdade. E nem vai dar para chamar de "Cerimônia do Casamento" o dia em que pusemos as escovas de dentes no mesmo copo. Quando abrimos mão de um evento desses, não estamos fadando o resto ao fracasso, não se trata disso. Apenas estamos perdendo uma grande chance de fazer algo muito especial. Comparativamente, não vamos chamar de parto o dia em que nos deitamos para a cirurgia cesariana. No Brasil começamos até a usar o eufemismo "parto cesáreo", depois que a cesariana virou um produto de consumo como qualquer outro, para mudar a impressão que a sociedade tem dessa cirurgia. Até mesmo os médicos obstetras estão usando o eufemismo, evitando eles mesmos enfrentarem a cruel realidade de que estão operando esse absurdo número de mulheres todos os anos.

    Em suma, você pode e deve exigir seus direitos. Você pode usar mecanismos legais para garantir o que deseja. Salientando mais uma vez, escolher um parto normal não vai fazer uma mãe melhor. Apenas vai garantir que o seu bebê passe e seja recebido no mundo de uma forma diferente. Vai também garantir e permitir que você conheça novas nuances das possibilidades do seu corpo. Novos limites, novas possibilidades! E depois tem todo o resto, que também é importante. A criação, a amamentação, os cuidados, o apego, o carinho, o amor, etc. Você pode pular apenas uma das etapas e dar o seu melhor em todas as outras. Você pode não pular a etapa. Você pode ser obrigada a pular etapas, quer por limitações físicas, quer pela força do sistema médico. Isso não implica em "mãe melhor e mãe pior". Tenha apenas a certeza de ter e olhar de verdade todas as cartas no baralho antes de escolher o coringa. Eu tenho certeza que você já é ou será uma ótima mãe. Mas não é disso que estamos falando, combinado?
    Mais sobre Parto Normal x Cesarianas no livro:

    PARTO NORMAL OU CESÁREA? O QUE TODA MULHER DEVE SABER (E HOMEM TAMBÉM)
    SIMONE DINIZ E ANA CRISTINA DUARTE
    EDITORA UNESP
    À venda no site www.maternidadeativa.com.br

    quinta-feira, 10 de maio de 2012

    Você já andou de montanha russa?!

    Mulheres em trabalho de parto geralmente gritam. Mas será que só gritam de dor? Não necessariamente! Alguém ai já andou de montanha russa? Gritou? Tava com dor? Pois é! A gente grita por diversos motivos, por medo, por empolgação, por causa da intensidade do momento. Se tem uma coisa que um parto é, é intenso!
    Nas artes marciais o grito tem uma função ao projetarmos um golpe, o grito coloca a força pra fora, o grito dá força! Mulheres durante o expulsivo desenterram uma força enorme dentro de si e gritam e rugem como leoas e parem! Elas vencem o medo.
    E você? Tem medo de andar de montanha russa?



    Encontrei esse ótimo texto da Katia Barga, do site www.babyyoga.com.brque ilustra o parto! Divirtam-se.


    Tem gente que acha loucura sentir dor para parir.


    Muitas coisas na vida são mais loucas e as pessoas fazem. E sem que haja bem estar algum em jogo. Pense no seu parto como se fosse um passeio de montanha russa. Essa foi a melhor metáfora que encontrei! Imagine a sua gestação como uma daquelas filas enormes em dia de excursão de escola no Hopi Hari. No verão. Você ali esperando aquela fila se deslocado devagar... muito devagar. Você cansada, os pés doendo. Você vê gente com medo, apreensiva. Gente empolgada que descreve como vai ser para quem nunca andou. E você ali. Sem saber o que esperar. Você também escuta alguns: você é louca! Andar nisso aí??? Nunca!!! Você não viu aquela montanha russa lá em Ximbiquinha do Sudoeste que quebrou e matou todo mundo? > E o pior foram os que ficaram mutilados pro resto da vida!



    Você faz ouvido mouco e continua ali. Avançando devagarinho. Não tem pra onde ir, é tarde pra pular fora, as grades que separam a fila são altas, só dá pra seguir em frente. Aí você vê quem está saindo, gente meio tonta, com uma expressão que você não entende, cambaleando, passando mal. E você pensa: onde é que eu fui me meter?



    Quando você está chegando perto o cansaço está maior, você tem que ficar encostada quase o tempo todo. Ai, não chega nunca. Pra melhorar no finalzinho ainda tem uma baita escada pra subir na plataforma de embarque. Bem que podia ter uma escadazinha rolante aqui...Você chega na ultima parte da fila. De repente parece que toda aquela morosidade foi embora. A fila anda muito mais rápido agora. Ou será que você é quem acha isso porque a hora de embarcar está se aproximando? Subir as escadas exige um esforço extra. Parece que seu peso aumentou uns quinze quilos. 



    Você não sabe se é o calor, o tempo de pé, ou se foi aquele combo gigante de hambúrguer fritas e balde de refrigerante que estão pesando.

    Mas você sobe, um degrau de cada vez. E o topo vai se aproximando. É quando você avista: tem uma saída de emergência lá em cima. Saída estratégica pela esquerda. Acho que é nessa que eu vou! Mas aí você pensa. Já vim até aqui... e se for tudo o que dizem mesmo? Como é que eu vou saber? Que o destino decida então: vou jogar uma moeda. Se der cara eu vou. Cara! Melhor de três então. Cara de novo. Ai, ai... Continua avançando. Ah, se aquela mocinha desmilinguida embarcar, eu vou também. Se ela consegue eu também. Ela embarca.


    Ok, acho que vou. a não ser é claro que chova. Se não for totalmente seguro não vou. E eu acho que estou vendo uma nuvenzinha lá longe. Se o carrinho que vier for vermelho também não! Vermelho me dá um azar! E eu não vou arriscar. Sua vez está chegando, você já vai chegar na plataforma. Uma moça amarela bem na sua frente, sai correndo pela saída de emergência. Você se estica e consegue enxergá-la lá embaixo, na saída da lojinha... tem alguma coisa na mão, mas o olhar parece meio distante. Eu vou! Não quero ficar imaginando como teria sido.



    Chega a sua vez. O coração sobe na boca. O fôlego fica suspenso alguns instantes. Mas você respira fundo e sobe no carrinho. E pensa: ainda bem que não era um vermelho!



    A viagem começa devagarinho. Tec tec tec. O carrinho vai subindo devagar. Tranquilo. Não é tudo aquilo! Que povo medroso! Dá até pra tirar a mão. Ainda bem que não desisti! A brisa no rosto. A paisagem tão linda. Ainda bem que fui forte!


    Sobe, sobe, sobe. Puxa, mas que alto... dá uma vertigem de leve... De repente você se vê no final da subida. C******, que altura, ai, eu vou morrer. Me deixa descer, me deixa sair daqui. F***** da P*** daquela professora que yoga que disse que eu não ia me arrepender. Se estivesse aqui agora, eu matava!!! Será que aquela doula ia fazer muita diferença segurando aqui a minha mão??? Bando de louca... ah, eu mato se eu sair viva daqui! E a minha prima, aquela V*** que me convenceu a vir. Vai ser legal, você vai ver, você vai querer ir de novo. Ai, eu mato, eu mato. Cadê ela? Porque não está aqui? Duvido que quando ela andou foi nessa tão alta, aposto que foi na menor!!!





    E vem a descida. O looping, uma subidinha, curva, mais curva, outra curva. Você já não está vendo nada direito, está meio tonta, parece meio fora de si. Tem mais gente gritando, ou será que é você mesma? Está doendo tudo, esse bate bate no carrinho vai doer ainda mais amanhã. Vai parecer que fui atropelada.. . Você nem sabe mais se está de ponta cabeça. Dá medo de olhar. Você espia, fecha o olho de novo. Não quero nem ver. Não vou olhar. Se eu olhar é pior!



    Vai chegando no final. O carrinho desacelera. Você está meio abobada, grogue. Alguém ajuda a descer. Você nem vê quem é. Podia ser o Brad Pitt e você não ia nem notar. Seu cabelo está parecendo uma piaçava depois da faxina, mas você esqueceu de prendê-lo. E agora nem lembra mais que tem cabelo. Mas tem alguma coisa diferente. Algo a mais em você. Vim, vi e venci. Sou praticamente um Julio Cesar! Suas pernas cambaleiam um pouco, mas você anda. A brisa bate e aos poucos você se recobra. Levanta a cabeça e sorri. Era só isso? Porque tive tanto medo?



    Vou pra fila de novo!







    Quem já andou de montanha russa sabe do que estou falando. Quem passou por um trabalho de parto também.



    E você, já andou de montanha russa?





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