sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Relato de parto da Emily - pela mãe Nathaly

Deixo aqui o Relato de parto assim como a mãe escreveu:


O Relato de Parto da Emily (08/07/13)

“Deus me deu a fórmula de um amor que só cresceu dentro de mim
amar alguém me deu princípio e meio, mas não me revelou o fim
e dividir meus sonhos com alguém só fez somar
a ideia de amanhã ser mais feliz
multipliquei minha força de vontade com a coragem de uma mulher
e o resultado disso tudo foi os grãos de fé
um edifício de amor resistindo aos vendavais
o amor me trouxe coisas sobrenaturais”.



Nunca imaginei que a letra dessa música, que cantei para Emily no dia 11 de maio, no chá de fraldas, pudesse se tornar tão real em minha vida.




A descoberta da gravidez

Emily foi uma filha planejada. Cerca de 6 meses antes de engravidar, 
eu comecei a fazer atividade física intensa e acompanhamento nutricional para emagrecer, já na expectativa de engravidarmos estando no “peso saudável”. Dentre os desafios do emagrecimento, eu me preparei para a minha primeira corrida no dia 21 de outubro (5km McDonalds). Na corrida, eu senti que meu corpo estava diferente; resolvi, então, na segunda-feira, dia seguinte, comprar um teste de farmácia.  

Fiz o teste e... buum!!! a novidade! estava grávida, "para nooooossa alegria"! Engravidamos na primeira tentativa. Fiz o teste de sangue para confirmar; depois disso era só festa. Entrei em contato com a GO fofa que já me atendia há mais de 5 anos, e fizemos nossa primeira consulta pré natal.
Depois disso, tudo foi correndo normalmente: consultas mensais, exames de sangue e ecografias; nossa bebê estava crescendo e se desenvolvendo perfeitamente. Nós seguimos comprando as coisas do enxoval e planejando a chegada da nossa princesa. 



Estudando o assunto: tipo de parto e assuntos correlatos

Desde o início eu queria o Parto Normal, pois sabia que seria a melhor opção para mim e para minha filha. 
A GO, durante as consultas, nunca abordou o tipo de parto que eu queria. Assim, por volta da 30ª semana, resolvi perguntar se ela fazia parto normal; ela me respondeu sutilmente que só faria parto normal se fosse particular. 
Eu pensei: “como assim??".
Quer dizer que a cesárea o meu plano de saúde cobre, mas o parto normal não?
Isso me deixou com a pulga atrás da orelha. 
Comecei então a pesquisar sobre o parto normal: como seria, quais intervenções existem. Fui a fundo em minhas pesquisas, comecei a ler muitos artigos, acompanhar vários blogs. 
Foi então que descobri a existência da DOULA, um tipo de profissional que, com suas experiências, com apoio físico e emocional, ajudava as mulheres mulheres antes, durante e após o parto, algo que muitas vezes um parente com boa vontade não conseguiria suprir. 
Li sobre o papel da doula no trabalho de parto e comecei a compartilhar essas novas informações com meu marido (Tiago), que desde o primeiro momento me apoiava na decisão do parto normal. 
No primeiro momento que falei com ele sobre a doula, ele foi resistente; pediu que eu me informasse mais a respeito, pois, segundo ele, a profissão de doula poderia ser apenas uma forma de ganhar dinheiro, em vez de ajudar as pessoas.
Por meio de várias leituras, fixei na ideia da doula, pois, de acordo com vários relatos, a doula era uma peça fundamental de apoio à mulher, pois a presença da doula reduzia em torno de 50% a chance de cair em uma (desne)cesárea. 
Pesquisei as doulas em Brasília, dentre as quais contatei a Érica de Paula, criadora do grupo de Gestantes “Renascimento do Parto”, bem como do documentário que está sendo exibido nos cinemas desde o dia 09 de Agosto, o "Renascimento do Parto".  A partir desse contato, fui inserida num fórum de debate sobre questões de gestação, parto e maternidade num grupo de email. Meus conhecimentos foram enriquecidos neste grupo.
No começo queríamos apenas o parto normal, contudo descobrimos que havia muitas diferenças entre o parto normal hospitalar e o parto humanizado. Diferenças que envolviam a mim e minha filha, as chamadas intervenções desnecessárias, como a episiotomia, a ocitocina sintética,  a anestesia, a manobra de Kristeller, e todo o restante do “pacote” do parto hospitalar.


Primeiro encontro com a doula

Nos debates do fórum (o grupo de email), conheci a Alaya, também doula e coordenadora  do Grupo Renascimento do Parto, juntamente com a Érica.
Depois de ler suas respostas e seus artigos de blog, resolvi contatá-la.
Assim, Tiago e eu fomos nos encontrar com ela no dia 23/05. A empatia foi instantânea. Ela foi muito atenciosa; conversamos bastante sobre as minhas expectativas em relação ao parto. Levei para ela o meu Plano de Parto; ela foi abordando cada item do plano e esclarecendo as dúvidas.
Falamos também sobre a minha GO; ela foi bem clara comigo dizendo que a GO que estava me acompanhando dificilmente toparia o meu plano de parto; que, se eventualmente ela fizesse o Parto Normal, seria com todas as intervenções que os médicos costumam fazer.
Enfim nossa conversa foi muito esclarecedora; naquele momento tive a certeza de que era ela quem eu queria ter ao meu lado na hora parto.



A mudança de obstetra

Destaco aqui o grupo fechado do facebook “Cesárea? Não, Obrigada!”, que me ajudou a ter a convicção de que eu não teria o meu esperado “Parto Humanizado” com a GO que estava me acompanhando, pois identifiquei claramente nas consultas que ela era cesarista e que na última hora ela inventaria alguma coisa para me empurrar uma cesárea.
Ainda na sala de espera, aguardando uma consulta, perguntei à secretária dela quantos partos normais ela havia feito nos últimos meses. A secretária respondeu que nenhum, pois a médica só fazia cesárea. 
Na 35ª semana, quando levei minha ecografia à GO, ela disse que minha Emily já estava em posição cefálica (o que facilitaria o Parto Normal), porém estava com circular de cordão, o que para ela era indicação para uma cesárea.
Como eu já havia lido sobre as REAIS indicações de cesárea, dentre as quais não consta o caso da circular de cordão, resolvi mudar de obstetra (que por sinal nem me ligou até hoje! afinal, com agenda cheia dificilmente ela se lembraria de mim, né?!) 
Decidi procurar uma médica obstetra humanizada, a Dra Caren Cupertino, da qual eu já havia obtido boas referências em vários relatos de parto. Além disso, uma colega do meu marido teve uma ótima experiência com ela.  
Ufa! Marquei a minha primeira consulta com ela, dia 29 de maio.
Nesse intervalo, houve um encontro do grupo de Gestantes Renascimento do Parto cujo tema foi "Tipos de Parto" (parto hospitalar, domiciliar, casa de parto). Também abordaram-se as diferentes formas que a mulher pode escolher para parir. O encontro foi muito bom e esclarecedor. Encontrei várias gestantes que também estavam sendo acompanhada pela Dra Caren.


Primeira consulta com a nova GO

Na primeira consulta com a Dra Caren, dia 29/05, a empatia foi inevitável. Ela é doce, muito atenciosa e receptiva. Conversamos sobre o plano de parto. Embora eu houvesse esquecido em casa, ela parecia já o conhecer totalmente. 
Por exemplo:
- Enfatizou os procedimentos que ela não indica, como episiotomia, tricotomia, manobra de Kristeller;
- a posição de parir era segundo a conveniência da gestante;
- não usa ocitocina como rotina;
- a gestante teria liberdade para se levantar e se movimentar no trabalho de parto;
- o exame de toque só seria feito se realmente necessário;
- o cordão umbilical só seria cortado após parar de pulsar. 
Na hora eu pensei que nem precisaria trazer o plano de parto, pois ela havia lido meus pensamentos. 
Então se iniciou o laço de amizade. A cada novo retorno, a Dra Caren se fez mais presente em nossas vidas e clareava as nossas dúvidas e medos.
Já nas primeiras conversas comentamos sobre as intervenções que o recém nascido poderia sofrer em um Parto Hospitalar, algo que muitas vezes fugia da alçada dela, pois dependeria do pediatra responsável pelo plantão. 
Eu não queria que minha filha sofresse com os procedimentos usados como rotina pelos pediatras nos hospitais; por exemplo, não queria que fosse aspirada, nem que aplicassem nitrato de prata no olho dela, muito menos que fosse tirada do meu colo de imediato. Eu queria amamentá-la já nos primeiros minutos de vida.
Essa questão foi um dos motivos que me fez aceitar a possibilidade do parto domiciliar.


A Escolha pelo Parto Domiciliar Planejado (PDP)

A ideia de PDP já tinha sido aprovada pelo meu marido, que desde o início dava todo apoio. Eu ainda tinha dúvidas, pois pensava que o hospital me daria mais segurança caso ocorresse alguma situação emergencial.
A lista de motivos e motivações que nos levaram ao PDP é extensa. Há artigos por aí que tratam sobre isso. Relatarei, porém, um evento particular que favoreceu fortemente minha decisão.
Na palestra do grupo Renascimento do Parto, encontrei uma amiga gestante que fazia academia comigo. Na saída, conversamos, e ela me apoiou na escolha do PDP, que também era a opção dela. Ela disse: "Nathaly, vamos parir em casa, é a melhor opção!". Eu pensei: "se ela e o marido, que são médicos, querem fugir do ambiente frio hospitalar, por que eu ainda estava em dúvida?".
Depois dessa reflexão, tive a certeza de que eu queria o PDP.
Resolvemos, porém, não comentar nossa decisão com ninguém, pois era algo muito novo; e entendemos que as pessoas não estavam prontas para entender e aceitar sem questionamentos, comentários e palpites desnecessários. Afinal, os comentários de amigos e de familiares eram sempre voltados para o "status quo" do parto hospitalar, principalmente a cirurgia cesariana. Muitos duvidavam que eu fosse capaz de parir! Qual não seria o desespero se soubessem de um PDP? 
Decididos, acordados com a Dra Caren, contatamos a enfermeira obstétrica que comporia a equipe no PDP: Melissa Martinelli, da Equipe Humaniza.
Marcado um dia, ela veio me visitar no meu apartamento.
Na visita, ela me explicou tudo sobre o PDP, sobre seu papel no dia do parto, sobre os equipamentos que ela traria, assim como quais os materiais eu precisaria adquirir. Também me perguntou se eu estava preparada para o parto natural, para a dor.  Mas... quem está? Eu não estava... porém, desde quando decidi parir, sabia que a dor seria inevitável. A satisfação de conseguir parir eu levaria por toda a vida! 
Respondi que estava trabalhando o meu psicológico para lidar com as dores em seu devido momento. Em pelo menos uns 30 relatos de parto que li, busquei saber como as outras mulheres lidaram com o trabalho de parto. Isso me deu mais experiência teórica e preparo para encarar o que viria a acontecer no meu parto, pois saber o que outras mulheres conseguiram e suportaram me dava forças para acreditar que eu também conseguiria. 
Pronto! A equipe estava completa. Agora era esperar o tempo da Emily.


A espera... 37, 38, 39, 40, 41 semanas e 3 dias

Eu já estava me preparando para Emily vir depois de 40 semanas, pois sabia que, de alguma forma, Deus iria trabalhar a minha ansiedade. Assim, descansei. 
Com 37 semanas, eu me afastei do trabalho. Pensei que ficar em casa seria um desafio, pois eu ficaria mais ansiosa por conta do ócio e consequentemente descontaria na comida. Graças a Deus, porém, não foi bem assim! 
Aproveitei para descansar, dormir bastante. Eu dormia quase o dia inteiro, já imaginando em um banco de horas de sono! rs! Quando a bebê nascesse, eu imaginava que não conseguiria ter mais o sono regular. 
Continuei fazendo atividade física 3 vezes por semana (hidroginástica e ginástica solo).
Terminamos de organizar o quartinho. 
Compramos todo o material do PDP, incluindo a piscina inflável, a qual já deixamos inflada algumas semanas antes. Deixávamos a casa sempre limpa e organizada e a geladeira abastecida.
Preparei também a mala da maternidade, com coisas para mim e para a bebê, caso fosse necessária a transferência para hospital.
A data provável do parto (DPP) era dia 28/06/2013. Eu conversava com a Emily para ela vir depois do dia 25/06, pois não queria que ela nascesse no meu aniversário. Eu queria que ela tivesse uma data só dela.



Reta final

No meu aniversário, dia 25/06, conseguimos sair pra jantar e comemorar. 
No dia seguinte, dia 26/06, comecei a perder o tampão mucoso. Fiquei feliz pois era um indicativo de que Emily já já estaria prontinha para vir ao mundo. O tampão continuou saindo nos dias seguintes. 
Na DPP, nada da Emily. 
Na consulta obstétrica, o tempo era aguardar até 41 semanas, para então fazer alguns métodos naturais de indução, como acupuntura. Também me foi pedida duas ecografias, a de 40 semanas e a de 41 semanas. 
Na ecografia de 40 semanas e 5 dias, a médica (ecografista) afirmou que a neném estava ótima, que a placenta estava grau III de maturidade, que estava tudo pronto para Emily nascer. Ela enfatizou que era a última ecografia. Todavia, poderia não ser, pois o prazo do bebê é até 42 semanas, ou seja eu ainda poderia fazer mais uma ou duas ecografias.
Alguns ecografistas fazem terrorismo quando uma grávida aparece com mais de 40 semanas. Não foi bem o meu caso, mas eu estava preparada caso passasse por isso. No meu exame, por exemplo, a médica se admirou de eu querer parto normal, mesmo com o prazo de gestação e da circular do cordão.
Na minha última consulta obstétrica com a Dra Caren, ela me esclareceu quais seriam os passos para a indução a partir de 41 semanas. Depois da sessão de acupuntura, haveria um toque (seria o meu primeiro toque em toda a gravidez, isso sim é uma médica humanizada! No meu plano de parto eu disse que só queria exame de toque quando fosse realmente necessário), o descolamento de membrana seria feito no dia 08/07, com 41 semanas e 3 dias, entre outros métodos, para só em último caso usar pequenas doses de ocitocina sintética. Quanto ao meu receio de deixar de ter um PDP por conta de induções, não havia impedimento, em caso geral. Isso me deixou bastante tranquila.
Um dia antes de completar 41 semanas, marquei uma sessão de acupuntura com minha doula, Alaya, para induzir o parto. 
Eu nunca tinha feito acupuntura; gostei bastante da experiência. A Alaya também fez um chá forte estimulante. Eu me senti muito bem depois disso. 
No dia seguinte, 41 semanas, dia 05/07, sexta-feira, fui à academia fazer minha última aula e me despedir das minhas colegas. Malhamos, conversamos, nos despedimos.

A véspera do trabalho de parto

Sábado, dia 06/07, foi um dia bem tranquilo. Pela manhã, houve "slingada" na academia, que é um evento que fala sobre "wrap sling". Muito bom! Embora eu já tivesse um sling, ainda não sabia bem como utilizá-lo.
Saí com o Tiago para comprar uma ou outra coisinha para o enxoval. 
À tarde, ficamos  à toa, quando senti involuntariamente sair o resto do tampão juntamente com um líquido transparente. Provavelmente era a bolsa, com seu respectivo cheiro de água sanitária. Mas era tão pouco, que cheguei a duvidar. Eu gostaria que fosse tudo de uma vez, mas não foi! 
Fiquei muito feliz, pois sabia que eu me tornaria mãe logo logo.
Para relaxar, fui assistir filme com o maridão.
Senti mais intensamente as contrações de treinamento (eu as tinha desde a 35ª semana). 
Baixei o aplicativo "Contraction Timer" para Android. Ele me auxiliou na contagem das contrações. Inicialmente estava tranquilo, indolor, com espaçamento de 30 e 40 minutos. Depois, fomos dormir.

Domingo, dia 07/07, que data bonita. "Emily pode até nascer hoje", pensei. 
Continuei perdendo líquido em pequena quantidade. 
    Prossegui o dia normalmente, organizei o que eu podia, chequei se a dispensa e a geladeira estavam abastecidas. 
Por volta das 14h, desabafei com meu marido: “Por que as coisas não podem ser normais comigo? Por que o líquido está saindo aos poucos? Geralmente nas outras mulheres sai tudo de uma vez. Como vou ter certeza de que é líquido da bolsa mesmo?” 
Não demorou muito, por volta das 15h, senti forte vontade de ir ao banheiro. Já no caminho, senti um jato de água escorrer, que molhou todo o chão. Depois disso tive certeza de que era a bolsa mesmo.  Ainda assim, continuou vazando líquido durante o restante da tarde e da noite, de modo que fui orientada a usar absorvente noturno. 
Contatei a Alaya para relatar o ocorrido. Fiquei de comunicá-la assim que a situação evoluísse para constrações regulares. Também comuniquei a Dr. Caren, que me orientou a observar a movimentação da bebê e seu ritmo. A consulta do dia seguinte continuava confirmada, caso o trabalho de parto não evoluísse.
Também comuniquei a Melissa, enfermeira obstétrica, que eu desejava fazer caminhada para acelerar o trabalho de parto. Ela me aconselhou a descansar para guardar as energias para quando o trabalho de parto ativo iniciasse. 
Para relaxar, tomei um banho e saí com o marido para fazer um lanche noturno fora, por volta de 19h. Eu estava com vontade de tomar cappuccino e comer biscoito de queijo. Mesmo com a bolsa rota, fomos andando para a lanchonete. 
Feliz e satisfeita, eu já poderia descansar e esperar pelas contrações.
Eram 21h45 quando tomei um chá de canela; comecei a sentir algumas contrações mais fortes, mas nada absurdo. Estavam com intervalo entre 8 a 10 minutos, durando cerca de 1 minuto. 
Contatei a Alaya, que se prontificou a vir na hora que eu quisesse. Decidi controlar a ansiedade, relaxar e dormir.  "Maravilha! minha pequena logo logo estará em meus braços".

O Trabalho de Parto

Durante a madrugada, as contrações foram aumentando.
Consegui descansar pouco. Fui para o chuveiro e tomei uns 3 banhos. Fiz exercícios na bola. A dor era completamente suportável e contornável com os exercícios, mas por volta de 4h30 acordei meu marido para decidir se chamaríamos logo a doula, já que as contrações estavam de 5 em 5 minutos. E o medo de não dar tempo de ela chegar? Após mais um banho, sem aumento do intervalo das contrações, decidimos ligar para ela, afinal eu havia sonhado que a neném nascia antes da equipe chegar! Era o medo aparecendo no sonho!  Liguei para Alaya, que chegou por volta de 5h30. Sua companhia trouxe a segurança e o calento necessários para que eu conseguisse relaxar, tanto que o intervalo das contrações aumentou um pouco.
Iniciamos a preparação das coisas.
Por volta das 6h30, tomei meu café da manhã. A piscina começou a ser enchida. Tiago ajustou a filmadora. Conversamos e aguardamos. As dores foram aumentando, a Alaya me fez massagens e acupuntura.
Cerca de 11h30, a Melissa chegou, quando as contrações já estavam bem intensas,  eu já estava gemendo o tão típico "ahmmmmmmm". Ela então fez o primeiro exame de toque da gravidez, para ver o progresso do TP.  Segundo ela, eu já estava com 6 cm de dilatação, mas a bolsa estava intacta. A dedução então foi que a rotura da bolsa ocorreu na parte de cima. Nestes casos, o risco de infecção é mínimo, é como se não houvesse rompimento da bolsa. 
O melhor de estar em casa é que eu podia me movimentar, ficar na minha cama, no sofá, tomar quantos banhos quisesse, beber água, comer, ver televisão, ouvir música, estar na internet, e tantas outras coisas que faço em casa. 
Nas horas que se passaram, a dor aumentava, e fui testando qual lugar era mais confortável. Fui para o chuveiro e fiquei um tempo sentada na banqueta, sob a água quente, que caía nas minhas costas. Eu já não conseguia comer nada há horas, porque tudo que eu comia eu punha para fora de enjoada.
As massagens da Alaya eram consoladoras, bem como o apoio do meu marido, foram coisas que naquele momento me deram mais forças. 
E olha que ainda havia muita coisa por vir. 
Com as contrações cada vez mais intensas, gemendo cada vez mais alto, a equipe pediu para que eu tentasse dormir, pois eu já estava exausta, com fome (sem almoçar nem comer há muitas horas). 
Deitei num sofá, sozinha num quarto, e consegui ficar em silêncio lá durante uns 15 minutos.  
A cada contração eu pedia forças a Deus para aguentar o que estava por vir. Foi um momento de completa introspecção; sozinha eu orava. Escutava minhas músicas, da trilha sonora que eu havia de antemão preparado. Uma música que me ajudou muito “Forever", do grupo Hillsong Music Australia. Este hino de louvor entrou na minha alma e me fez refletir o quanto Deus havia sido bom comigo, em toda a maravilhosa gestação, em todos os momentos que eu estava passando. Ele estava me preparando para ser uma pessoa melhor, para ser a mãe que Emily precisa ter.
Sim, consegui conter os gemidos só pra mim; fiquei por uns 15 minutos assim, calada. Nada de descanso, apenas eu e Deus. Um momento só nosso. 
Por conta desse tempo calada, todos pensaram que eu havia conseguido dormir e relaxar... mas não era assim.
Novamente, por volta das 14h30, a Melissa fez um outro toque; eu continuava com 6 cm. Eu não entendia por que estava demorando tanto. Nesse momento, a Alaya, minha irmã e o Tiago já estavam esquentando a água da piscina, pois eu já queria muito entrar.  Eu sabia que a piscina seria meu refúgio, mas demorou a esquentar. Pelas contas do meu marido, para esquentar 500 litros de água, a partir 400 litros de água na piscina, seriam necessárias umas 25 a 30 panelas de água fervendo. Até lá, fiquei entre chuveiradas e massagens para aguentar as contrações.
Finalmente, por volta de 15h50, entrei na piscina. Já estava no final da fase de transição, no início do expulsivo. Foi nesse momento que eu conheci a tão comentada “partolândia”. Eu estava completamente fora desta dimensão. rsrs 
Eu não entendia direito o que conversavam comigo, não consegui perceber quase nada do que estava acontecendo fora da piscina. Só pensava em mim e na chegada da Emily, e em como controlar e suportar a dor. 
A cada contração, eu clamava forças a Deus. 
Então eu comecei a sentir uma vontade de fazer força em cada contração. Quando eu pensei em desistir, pois achava que não aguentaria a dor e dizia “eu não aguento mais", eu não tenho força”, Melissa me disse "o que não falta em você neste momento é força". Alaya confirmou “Nathaly, você é forte, você consegue, se entrega pra dor!" Eu pensei: "como me entregar pra dor mais do que já me entreguei?"
Melissa pediu para fazer mais um toque. Foi quando se constatou que eu já estava com 10cm de dilatação, que já dava para sentir a cabeça da neném. Ela então comentou que a neném estava nascendo. Neste ínterim, o interfone já havia tocado umas duas vezes, e o porteiro já havia batido na porta para saber se estava tudo bem, pois alguma(s) vizinha(s) se assustou(aram) com os meus gritos.
Mais uns 2 gritos, e eu estava no expulsivo (SIM! a leoa que existia dentro de mim havia despertado; eu gritava muito). 
Tamanha era minha dor que meu marido, que não fazia a menor questão de entrar na piscina, se ofereceu para entrar. Mesmo sem esboçar reação objetiva, ele entendeu claramente que eu queria sim. 
Meu amor entrou e me apoiou bastante. A cada contração, ele segurava minha mão e dizia que eu era forte, que eu aguentaria. Ele perguntava se eu queria mudar de posição, se eu estava confortável. Em alguns momentos, mudei de posição, até que encontrei a posição mais confortável. Eu já havia perdido a noção do tempo; cada minuto era uma eternidade, pois a dor já estava no ápice. Cada vez que eu pensava em desistir, eu lembrava do que a Dra Caren me disse “Quando a dor estiver tão intensa a ponto de querer desistir, o neném já está nascendo". 
Assim aconteceu: a Melissa já estava arrumando todo o material para receber a Emily; toalhas e touca na borda da piscina. 
Às 16h35, senti queimando a região pélvica. "Tá pegando fogo!" (o tão comentado círculo de fogo que algumas mulheres relatam). 
Forçaaaa! 
Arrrrrrrrhhhh!
A cabeça saiu. Veio-me à mente que ela estava com circular de cordão umbilical. Avisei a Melissa, e ela logo que pôde desenrolou o cordãozinho do pescoço. 
Consegui lembrar que eu não deveria fazer força fora das contrações (as mulheres que não sabem disso geralmente continuam fazendo força, mas isso aumenta as lacerações). Aguardei as próximas contrações para fazer força. 
Arrrggggggg!  
Às 16h44 do dia 08/07/2013 saiu de mim o corpinho quentinho que logo veio para os meus braços.
Naquele momento, o mundo parou! Só emoção, lágrimas e alegria. 
Eu chorei muito e disse “oi, princesa! princesa linda da mamãe! como vc é linda! tão gordinha!". Eu disse a meu marido: "olha, amor, nossa filhinha!" Ele me disse: "Amor, você conseguiu! parabéns! você foi muito forte! conseguiu o que muitas desistem de tentar!".
Emily nasceu muito atenta. Já de olhos bem abertos, tossiu, espirrou, sorriu, chorou. Que choro lindo, tão fino, tão meigo! Logo tentou mamar.
Ficamos ainda uns 20 minutos em êxtase total; papai, mamãe e filha. Ambos muito emocionados, curtindo cada segundo daquele momento. 
A Grazielle e a Alaya também estavam muito emocionadas.
Naquele momento, eu me senti a mulher super poderosa. Pari! Sim, pari uma menina linda, com 50cm com 3,74kg, muito esperta.
Emoção sem limites, todas as dores foram anestesiadas ao ver minha filha.
Depois que o cordão parou de pulsar, o papai cortou. 
Mais um pouco, pequenas contrações vieram, eu me levantei da piscina, e a placenta saiu.
Tive uma pequena laceração de 1º Grau. Levei 3 pontinhos para a cicatrização ser mais rápida (os pontos caíram em 4 dias).  A recuperação foi bem melhor do que eu imaginava. 
E assim nasceu o maior amor do mundo: em casa, por um trabalhoso, porém maravilhoso, Parto Domiciliar Planejado, sem intervenções desnecessárias e totalmente natural.




Agradecimentos

- Agradeço a Deus por nos proporcionar um momento tão lindo e marcante; por me dar forças quando eu mais precisei;
- ao amor da minha vida, Tiago Ramos; sem o seu apoio nada disso teria acontecido; é um companheiro em todos os momentos; juntos nós gestamos, juntos nós parimos. Te amo, príncipe.
- à minha irmã Grazielle Rodrigues, que esteve presente em toda minha gestação e no parto; ela deu-me suporte emocional e físico.

Agradeço à equipe linda que esteve comigo:
- minha doula, minha "fada", Alaya Dullius; o que seria de mim, se não fosse você ao meu lado? ajudou-me a lidar com a dor de forma natural; você foi especial em cada momento;
- à enfermeira obstétrica Melissa Martinelli, que também não me deixou desistir, mas acreditou no meu parto, ao passo que deu todo o suporte profissional necessário;
- à Dra. Caren Cupertino, que foi essencial em cada fase da gestação, que me orientou e deu a segurança necessária no melhor caminho para conseguir realizar o sonho do PDP.

Enfim, eu renasci! sou uma pessoa mais forte!
Hoje eu posso dizer: eu pari! Foi difícil, mas eu consegui!

Emily, te amo incondicionalmente!


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