sábado, 26 de dezembro de 2015

Efeito irritação - para minha bebê quase criança de 17 meses.

Para minha filha de 1 ano e 5 meses sobre seu dia agitado, que teve sono e cansaço acumulado e uma bebê muito irritada!



Hoje seu dia foi todo estranho, você que gosta tanto da rotina, de prever passo após passo o que vai acontecer – isso te dá tranquilidade, e seu relógio biológico já está acostumado. Mas hoje foi um furacão.

Você foi tirada da cama mais cedo do que está acostumada, você sempre despertou naturalmente. Não tomou seu café da manhã como sempre toma, sentada na mesa, não dava tempo. Trocou de roupa as pressas, entrou no carro, ainda não tinha nem terminado de acordar direito, os olhos pesados, o cabelo despenteado...

Chegou no destino, um lugar que você gosta, tem a escada -- você adora subir e descer a escada, se sente desafiada, é do seu impulso natural infantil de explorar e vencer obstáculos. Não te deixaram subir na escada...

Você foi distraída, tinha lugares pra explorar, coisas pra fazer, mas você não é boba, sabe quando estão tentando te distrair para que você não atrapalhe, e quando estão realmente ali brincando com você. Atenção de verdade é bem diferente da simulada. Você sente bem o que acontece.
Todos estavam muito ocupados, e você ficou ali, explorando, meio sozinha, bastante sozinha na verdade. Você gosta de companhia, mas não podiam te atender. Você foi ótima, foi levando, se distraindo. Ganhou um pouco de atenção aqui, outro pouco ali, um colinho rápido, vários hiatos. Comeu uma banana de pé, tomou uns goles de água, foi ficando cansada.

Já era 11 da manhã e você estava entediada. As 11 é o horário usual da sua soneca, seu corpo pedia para dormir, os acessos aos lugares eram restritos e você percebia essa restrição. O calor aumentava com o sol quase a pino, estava muito quente, e você cansada e irritada, chamou a mãe. A mãe atendeu, deu colo, deu mamá, sentamos num cantinho no chão quietas, na esperança de você relaxar e descansar.

Mas a rotina tinha sido quebrada, o lugar novo, a excitação, a movimentação, o calor...
E o calor aumentou, e você queria muito subir a escada, mas ninguém deixava você passar, você chorava, implorava, brigava, ninguém deixava.

Você ficou tão chateada, tão frustrada. Acham que por que algo não é importante pros adultos não deve ter importância mesmo. Pra você tinha minha filha, eu sei, na sua cabecinha infantil, nos seus impulsos de explorar, pra você tinha importância, você queria ver as pessoas, estar com nós, mas não podia subir, desculpe, sei como você ficou chateada.

Então brincamos com água, pra você se acalmar e refrescar do calor, você voltou a sorrir, o dia voltou a ficar bom. Mas claro, já era 12h e sua soneca já havia sido pulada, depois de vestir a roupa novamente, lá veio a irritação de novo. Qualquer adulto com sono, entediado e com fome fica de mal humor, mas a gente, os adultos, aprendemos a lidar com as adversidades, você é iniciante, ta aprendendo ainda, não tem obrigação de saber lidar.

Não tinha um colchãozinho pra você deitar, e a curiosidade que aquele movimento todo naquele lugar novo te despertava não te ajudava a relaxar. Você estava incomodada, e muito braba!
Fomos para o carro, ultima tentativa de você relaxar. Dormiu, apagou no primeiro minuto!
Dormiu meia horinha... bem menos que suas usuais 1h -- meia horinha de sono já atrasado, mas tudo bem, um pouquinho já ia te ajudar.

Soneca atrasada, almoço atrasado, coisas da vida. Vamos comer, você não tem culpa dos nossos horários de adultos, a gente dá conta, a gente entende as quebras de rotina, a gente compensa, a gente racionaliza, você não. Você só vai ficando incomodada e perdida e me olha com cara de “por que você está fazendo isso comigo mamãe?”

Almoçamos, lugar estranho, ok, você se adapta! Comida mais ou menos, ok você mata a fome. Mas o cansaço, o tédio, o sono, a fome;  já estão acumulados. E quando acumula minha gente... o bicho pega!

Voltamos, pra mesma casa onde você não pode subir as escadas, onde todos estão ocupados e não te dão atenção de verdade. Sua vó brinca um pouco contigo, seu pai tenta te pegar no colo, sua mãe improvisa uma brincadeira, mas nada funciona bem. Você não quer mais catar gravetos no quintal, você não pode mais brincar com a água, as portas fechadas, sem brinquedos. E ai você vê, o parquinho!! Você lembra do parquinho! No parquinho é legal! Tem escorrega, tem balanço, tem areia! O parquinho vai vencer o tédio, vai passar por cima do cansaço. Mas sua mãe não deixa. Ela até te leva pra correr na grama e explorar a praça, mas ela não deixa você entrar no parquinho, e você não entende por que né filha, parece pura maldade!

Era um motivo tão bobo, vinha uma nuvem de chuva, aquela era a última fralda da bolsa, já estávamos lá a 7 horas seguidas e eu não podia encher você de areia e não ter outra fralda pra trocar. O motivo era adulto, mas você não entende motivos adultos, seu mundo é regido pelo seu impulso de explorar, pela sua liberdade e vivacidade, e pela sua rotina que foi quebrada.

Quando eu te forcei a se afastar do parquinho e entrar novamente pelo portão da casa, você ficou indignada, revoltada, morreram suas últimas esperanças de brincar. Você estava muito chateada comigo, não entendia por que não podia brincar, brincar pra você é muito importante, é vital!

Eu bem que tentei, mas a quebra de rotina, as restrições, a falta de atenção, o sono atrasado, a alimentação picada, o calor... você era só irritação. Eu entendo filha, entendo seus motivos, você tentou a escada de novo, e novamente não deixei você passar. Estava sujo lá em cima, com cheiro de tinta, não era apropriado para você, mas como você poderia saber disso né? Provavelmente na sua cabecinha era apenas mais uma arbitrariedade minha, e você ficou mais braba ainda, protestou, se jogou, bateu a cabeça no chão. E agora além de tudo estava com dor.

Eu respeito seu direito de estar chateada minha filha, mas não podia deixar você passar. Entendo suas razões, não espero de você mais do que um comportamento infantil saudável de uma criança cansada que só queria brincar. Você ainda terá muitas frustrações na vida minha filha, ouvirá muitos “Nãos” das impossibilidades cotidianas, não vou te castigar por estar cansada e chateada. Você não entende as razões dos adultos, mas nós podemos entender as tuas. Não vou te rotular, não vou te chamar de chata, de manhosa, de enjoada, você tinha todos os seus motivos para estar irritada, e eram SEUS motivos e para você faziam pleno sentido. Respeito teus sentimentos, por mais que às vezes você também me tire do sério.
Ao voltar pra casa você novamente dormiu no carro, dormiu não, apagou!
Estava tão exausta que fiquei com dó de te tirar do carro ao chegarmos e fiquei ali “de castigo” mais uns 40min estacionada, esperando você dormir o sono que você tanto precisava dormir.

O fim do seu dia em casa foi conturbado, nada da rotina funcionou, e seus pais estavam tão cansados. Agora eu te vejo filha minha, dormindo novamente após esse longo dia, você sorri e se aninha no meu colo e não tem mais sinais de irritação.

Quero te dizer que amanhã será mais fácil, mas só posso te prometer que me esforçarei mais para te acolher e respeitar teu ritmo, pois o teu ritmo não é o dos adultos, e as crianças precisam ser protegidas.


Amanhã tem mais confusão filha, e depois de amanhã também. Sabe, a gente tá de mudança, pra uma casa nova! E todos os dias você vai poder brincar naquele quintal, e tomar banho de mangueira, e vai poder ir no parquinho que você tanto queria também! Papai e mamãe estão felizes, e eu vejo que você fica feliz de estar nessa casa também! A confusão vai passar filha, e muitas coisas você ainda não vai entender, mas vai melhorar, te prometo! Seus pais e seus avós estavam hoje fazendo coisas muito boas, e com muito amor, e tudo isso envolve você. Você só precisa de mais pausinhas pro seu ritmo se acostumar, pro seu ritmo de bebê, bebê meio criança, quase criança. Essa fase maluquinha que você tenta entender o mundo e a gente tenta te entender!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A menina que adorava brócolis

 Brócolis foi o primeiro alimento (depois do leite materno) que a Lara experimentou
Ela tinha 5 meses e 24 dias, eu ainda não tinha começado a introdução alimentar, mas ela já demonstrava interesse por comida e já sentava sozinha (que é um dos sinais de que a IA está se aproximando - veja isso no meu outro post sobre BLW e Introdução Alimentar aqui http://alaya77.blogspot.com.br/2015/02/introducao-alimentar-pelo-metodo-blw-o.html... )
Estavamos em um almoço em família e eu resolvi distrai-la com uma flor de brócolis, foi amor a primeira vista!



   Então veio a introdução alimentar e o brócolis continuou fazendo sucesso (com 10 meses)




    Eis que um dia em casa notei que ela estava em silêncio a muito tempo -- e quem tem filho sabe, silêncio em casa nunca é bom sinal! Fui até a cozinha e me deparei com uma cena curiosa. Lá estava a criança, com seus 15 meses de vida, sentada em frente ao lixo com um maço de brócolis na mão! Eu havia "limpado" a geladeira de uma pessoa que viajou e o brócolis não teve jeito de salvar, ja estava muito amarelo e com aquela 'gosminha' que as folhas ficam quando estão apodrecendo, então pus no lixo. A Lara aproveitou o portãozinho da cozinha aberto, fuçou o lixo, e achou o brócolis! Ela estava tentando comê-lo, cru e velho! A criança não se continha de felicidade com seu enorme brocolis na mão. Tinha pedacinhos de brócolis espalhados pelo chão da cozinha e esmagados contra a fralda dela e na boca. (e não, ela não estava com fome, tinha almoçado bem!)

      Sei que talvez um dia ela possa, durante um tempo, perder o interesse pelo "verdinho". Aqui em casa nós adoramos brócolis então bom exemplo não vai faltar.
Ela ainda não vai a escola, não come industrializados, come de tudo, come com prazer, e nunca foi forçada a nada. Fico pensando se após a escola (com aqueles cardápios de bolos açucarados, leites achocolatados, gelatinas etc) ela ainda vai gostar do seu amado brócolis. Espero que sim!



sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pós Parto - o bebê nasceu e agora?! Aspectos Emocionais

Puerpério pode ser "punk" - mas você não está sozinha!
Arrume as malas, vamos viajar!             


 "Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas ficam quase sempre com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de chorar de alegria. É como se  estivessem dizendo: "Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele". Nestes momentos, tenho a fantasia de estar diante de um prisioneiro em um calabouço, que dia após dia transmite uma mensagem em Código Morse: "Ninguém está me ouvindo? Há alguém ai?". E um dia finalmente escuta algumas batidas leves que soletram: "Sim". Com esta simples resposta ele se liberta da solidão. Torna-se novamente um ser humano. Há muitas, muitas pessoas vivendo em calabouços privados hoje em dia, pessoas que não deixam transparecer essa condição e que têm de ser ouvidas com muita atenção para que sejam captados os fracos sinais emitidos do calabouço." Carl Rogers

(muitas vezes o bebê quer mamar por muitas horas seguidas, e não aceita ficar longe da mãe. Não adianta se desesperar, a gente aceita que é o que ele precisa, e se vira pra passar o tempo de uma forma legal.)


     Um pouco antes da minha filha completar um ano eu decidi gravar um vídeo bem honesto sobre como foi o pós parto para mim, os aspectos emocionais do puerpério. Eu não esperava que tantas pessoas se identificassem com os sentimentos. Claro que eu priorizei comentar aqueles aspectos de ser mãe que a gente esconde embaixo do tapete e não comenta com ninguém com medo de alguem achar que "não gostamos dos nossos filhos". 
     Encontrei muitos comentarios concordantes com o que eu tava expondo, o que me deixou cada vez mais claro que a maioria das mulheres sentem todo esse turbilhão de emoções, mas nós, enquanto sociedade, escolhemos não falar sobre isso.
      Não falar sobre o lado "tenebroso" do pós parto parece ser uma forma de fingir que ele não existe. "Não vamos lidar com isso, quem sabe passa". Passa, mas a que custo? Será que não há uma forma melhor de lidar com toda essa montanha russa emocional?
     O que percebo é que muitas mulheres tem ficado de escanteio em suas necessidades emocionais, e há um tipo de "gashlight" com elas, que minimiza o que sentem "ah isso é bobeira" "ah até parece que é tudo isso que você ta sentindo" "deixa de besteira seu bebê é saudável você devia estar radiante de felicidade"; e seguem dizendo como deveriamos ou não deveríamos nos sentir, ao invés de simplesmente dar espaço para a escuta do que realmente sentimos
     O que muitos não entendem é que não estamos tristes com nossos bebês, que não estamos amando menos, mas que ser mãe é uma experiência emocionalmente intensa, e ainda que amemos loucamente nossas crias e tenhamos muitos momentos extremamente felizes no nosso dia a dia, e consigamos sentir o amor de forma tão palpável; também é verdade que temos nossas "noites escuras", e que nos setimos sozinhas, assustadas ou sobrecarregadas com todas as mudanças que a chegada de um filho traz em nossas vidas.

     Há uma celebração da vida que chega, e um luto pela vida que se vai, por que ela se vai, ela muda, e ela nunca mais será a mesma. As relações familiares mudam, o "namoro" muda, e nós mesmas mudamos, nos transformamos, nos descobrimos no papel de mãe e morremos um pouco pro que éramos antes. Por isso um nascimento de um bebê é tão forte, ele traz uma enorme alegria, mas enormes mudanças também, e mudar quase nunca é fácil, exige muita transformação interna!

Quando publiquei esse vídeo recebi basicamente três tipos de resposta
1 - mulheres que se identificaram completamente e se sentiram aliviadas ao saberem que não eram as únicas e se sentiram "ouvidas"
2 - mulheres (geralmente ainda não mães) assustadas dizendo que eu estava retratando a maternidade de uma forma horrível e agora estavam com medo de serem mães
3 - pessoas que não são mães, não serão (homens), ou já foram mães a muito tempo atrás dizendo que aquilo tudo era bobagem e não sentiram nada disso e "até parece que é esse drama todo"

Quero comentar esses 3 grupos

Grupo 1 - Identificação

Percebi que muitas sentiram alívio ou se identificarem com minhas palavras, disseram que teriam sofrido menos em seu pós parto se tivessem tido contado com esse tipo de fala antes do bebê nascer. Retrataram sentir muita culpa por terem esses sentimentos, se sentirem "diferentes", isoladas, e estarem cuidando do bebê mecânicamente. Há um sentimento de solidão muito forte nessas mulheres, e um sentimento de terem sido enganadas, de que a maternidade não é aquela coisa idílica que "vendem por aí", e que precisamos falar mais sobre esse outro lado!
Eu coletei a fala de algumas mulheres em resposta ao meu vídeo, e pedi autorização delas para colocar aqui. O sentimento de identificação foi surpreendente! Você também se identifica?
Fiz questão de colocar várias falas aqui, quero que você, mãe no pós parto, com um bebezinho no colo, se sinta ouvida! Saiba que você não está sozinha!





      
Grupo 2 -  Amedtrontamento

     Calma gente não se trata de assustar ninguém, mas de jogar limpo! Vamos ser honestas sobre o que é a maternidade, vamos ajudar a não criar expectativas irreais que depois trarão enormes frustrações! Sejamos francas, a maternidade não é um grande mundo cor de rosa, mas isso não quer dizer que não vale a pena, que não existem momentos lindos, de muito amor, e muito crescimento! Maternidade transforma, mexe com a gente, muda valores, muda nossa visão sobre nós mesmas, sobre o papel que temos no mundo; e tudo que muda nossa vida as vezes dá uma sacudida, e sacudidas mexem em feridas, em memórias, em auto-estima, mexem com nossos sonhos, nos fazem pensar, nos fazem sentir. 
     Assim como as revistas femininas tratam as fotos com photoshop e criam expectativas irreais para nossas meninas e isso gera enormes frustrações, a maternidade retratada por aí também gera uma imagem falsa e cor de rosa demais de como tudo é na realidade. Isso não nos ajuda, pois não nos ensina sobre o que esperar quando chegar nossa vez, e ai nos vemos imersas em um monte de sentimentos e nos sentimos quase que traídas "por que ninguém me avisou?!" ou preocupadas se há algo de errado com a gente. 
      Por isso meu objetivo não é assustar nem dizer que ser mãe é horrível! Pois não é horrível! Muitos momentos tornam tudo isso uma delícia de jornada, MAS existem momentos díficeis com que temos que lidar, e saber que eles estarão ali nos ajuda a nos prepararmos melhor.

     Não precisa ter medo! Isso foi o que EU vivi, e cada um viverá sua jornada de forma diferente. Mas se sabemos que faremos uma viagem, uma viagem sem volta, preparamos nossas malas, olhamos o mapa, escolhemos o hotel, verificamos a previsão do tempo, escolhemos as roupas certas, e ai nos jogamos na aventura! Quem sofre é a mãe que vai para os alpes suíços em pleno inverno levando roupas fresquinhas por que lhe disseram que tudo era um eterno verão! Não! nós preparamos nossa mala, e se levamos nossos casacos, passamos bem por todas essas mudanças de estações. O começo pode ser difícil, mas vai dar o que lembrar! Vai ser a melhor viagem da sua vida. Pensar sobre o puerpério e tudo que vem pela frente, é só uma estudadinha no mapa. O "novo" assusta e se tornar mãe é um mar de desafios e descobrimentos, se estamos preparadas, passamos bem. Se sabemos que todos esses sentimentos são 'normais', não nos culpamos e não nos sentimos tão sozinhas e inadequadas. Portanto não se assuste, encare de frente, e lembre que cada pessoa vive tudo isso de forma única.


Grupo 3 - Que bobagem tudo isso!

      Acredito que quando vivemos algo muito forte em nossas vidas - e se tornar mãe com certeza é um marco - é impossível que certos sentimentos não surjam. Contudo acredito que seja por hábito condicionado, seja por necessidade do momento, muitas pessoas não permitem que esses sentimentos venham a tona, e buscam preencher com coisas de fora, aquilo que por dentro está incomodando. Não julgo, cada um sabe de sua vida e de seus 'calos', mas penso que muitas vezes enterramos sentimentos pois não conseguimos lidar com eles naquele momento, mas eles existem! Um bom mergulho terapeutico mostraria isso!
     Uma pessoa que está passando por dificuldades financeiras, que tem muitos problemas pra lidar, que não tem apoio, uma pessoa com dificuldades de se vincular emocionalmente (as vezes por causa da criação que recebeu), para estas, as vezes não há espaço para lidar com tudo que a maternidade traz, não há tempo, não há condições emocionais conscientes. E ai jogamos tudo para o subconsciente, jogamos tudo para debaixo do tapete, enterramos sentimentos, passamos por cima das memórias, não deixamos o universo emocional aflorar pois seria dificil demais, dolorido demais, preferimos calar.
     Não julgo! Mas duvido que não tenha havido pelo menos uma 'sacudidela' ao se tornar mãe, um momento de choro, uma dúvida, uma culpa, uma insegurança, um sentimento sufocante, uma grande preocupação. As vezes a gente precisa voltar a trabalhar quando o bebê tem apenas 1 mês, as vezes a gente precisa lidar com problemas familiares ainda maiores, com problemas financeiros, e ai a gente coloca as emoções da maternidade no baúzinho! E as vezes esses sentimentos todos até existiram! Mas esquecemos, deixamos para trás, guardamos as coisas boas, e seguimos em frente.
     Talvez essas emoções nunca aflorem, mas não por que não existiram, mas por que faltou terreno emocional fértil, espaço... Talvez elas venham a tona quando nascer um sobrinho, uma neta, talvez aquele sentimento fique guardadinho e se transforme em outra coisa, em outra 'válvula de escape'.. As pessoas são complexas!
     Quando não queremos olhar pra dentro, seja porque não temos o costume, seja por que dói demais e evitamos isso até mesmo de forma inconsciente, o que está lá dentro fica em ebulição. Cada pessoa conhece suas dores e suas alegrias, e vivemos num mundo que não valoriza o elo afetivo, a vinculação emocional, então muitas vezes essa fica deficiente mesmo, e ao não permitirmos o vínculo, ao enterrarmos o sentimento mesmo antes de sentir, acabamos por acreditar que isso não existe, que é um grande 'drama', que isso não aconteceu com a gente. 
     Mas se olharmos para nossas relações atuais, com nossos filhos, nossos parentes, talvez possamos perceber que um elo foi quebrado, que há pouca comunicação real, pouco vínculo, mal entendidos, afastamentos entre familiares, muita coisa não dita... falta as vezes até um abraço que não seja dado de forma constrangida. Talvez pudesse ter sido diferente, talvez não. Não sou psicóloga e não cabe a mim apontar dedos pra ninguém, mas quando vejo alguém achando que não há todos esses sentimentos no puerpério, me pergunto que tipo de colo lhe foi oferecido quando era bebê, que tipo de atenção teve, que tipo de maternidade teve que exercer por força das circunstâncias... que sentimentos trancou no fundo do baú. Quantas pessoas de fato são ouvidas em suas necessidades emocionais?! Não tenho respostas, só faço as perguntas e compartilho o que vivi!


Segue abaixo o vídeo com meu relato pessoal:




Gostaria de deixar aqui o link para alguns textos que eu li durante o puerpério e que fizeram eu ter muito sentimento de identificação. Me ajudaram a me sentir ouvida e compreendida, então compartilho eles com vocês!

Precisamos Falar sobre Puerpério




segunda-feira, 15 de junho de 2015

Nunca dê alimentos para uma criança sem consultar os pais antes - nem de brinde!

Costumo gostar bastante das reflexões da Fernanda, a convidei para postar aqui no blog. Penso que as pessoas tem que parar de dar coisas pras crianças alheias. A mãe passa todo o trabalho de planejar a educação, a alimentação, leva na nutricionista, toma todo cuidado na escolha e preparo, ai vem alguém que se acha no direito de estragar tudo e passar por cima da vontade da mãe, isso é uma desautorização da mãe, e um tremendo desrespeito. Educação alimentar é uma parte muito importante na vida emocional e na saúde física daquela criança/futuro adulto. Aproveitem o texto da Fernanda!


Nunca dê alimentos para uma criança sem consultar os pais antes - nem de brinde!

(Guest Post de Fernanda Rezende Silva)

Em poucas semanas aconteceu quatro vezes: comerciantes tentaram nos "agradar" oferecendo guloseimas ou outras porcarias para a minha filha, por isso resolvi escrever e explicar porque isso não é legal. A nova geração de pais e mães tem consciência dos malefícios da má alimentação mas oferecer alimentos a uma criança sem consultar os pais vai além disso - demonstra falta de educação e respeito com aquela família. 
Para começar: minha filha já come de tudo (inclusive doces) mas não é todo dia - isso é bem regulado de forma que não atrapalhe a alimentação saudável dela. Se vamos numa festinha, ela come brigadeiro? Pode comer sim, não vamos proibir, mas não faz parte da rotina alimentar - isso é uma escolha da família que deve ser respeitada.
A primeira vez que a cena aconteceu foi num restaurante onde fomos almoçar. Fizemos o pedido e o garçom aparece com TRÊS pirulitos e coloca sobre a mesa. Por sorte meu esposo conseguiu esconder os pirulitos antes que nossa filha os visse - se ela tivesse visto claro que ia querer comer pirulito e não iria almoçar (parece um bom motivo evitar doces na hora do almoço, certo?). 
A segunda vez foi num vôo - entramos e a aeromoça já veio dizendo "oi menininha bonitinha, aqui uma balinha". Eu me meti na frente e disse que ela já tinha escovado os dentes e não ia comer bala (no vôo ela iria dormir, ou seja, se comesse bala passaria a noite de dentes sujos). Higiene me parece ser mais um bom motivo para recusar doces. Além da higiene também lembrei dos casos de alergia - por exemplo, crianças alérgicas a leite (a bala era de doce de leite). E se minha filha tivesse alergia? Imagine se a mãe pisca e a criança coloca uma bala dessas na boca - não seria nada legal presenciar uma reação alérgica em pleno vôo. 
A terceira vez foi em outro restaurante, na hora do jantar. Pedimos peixe com arroz e salada e daí mandam batata frita de brinde só porque viram que tinha criança na mesa, sem nos perguntar antes se podiam fazer isso. Se minha filha comesse batatas fritas não iria jantar, e nós escolhemos o prato com todo cuidado para não vir batata frita - não foi nada agradável ter que devolver a batata frita nesse restaurante. Ainda sobre restaurantes: não entendo porque todo prato kids dos menus vem com batata frita - já está passando da hora dos chefs revisarem esses cardápios e pelo menos incluírem uma opção mais saudável como alternativa à batata frita. 
A quarta vez que o fato aconteceu foi em uma loja de roupas infantis. Sem falar nada comigo antes, a vendedora coloca um pirulito na mão da minha filha. Naquele dia não era hora de almoçar, nem tinha acabado de escovar os dentes, mas eu tinha um motivo para não gostar da cena: não quero que minha filha cresça achando que é normal aceitar qualquer alimento de um estranho. Isso não é normal, não é saudável, não é seguro. Logo que as crianças entram na escola começam as recomendações do tipo "não aceite bala nem qualquer alimento de gente estranha". Porque os pais dizem isso? Porque sabem que tem gente mal intencionada em todo lugar. Trocar meia dúzia de palavras não faz um vendedor deixar de ser estranho, então na cabeça de uma criança ela estaria sim aceitando doce de um estranho e eu não quero que minha filha veja isso como algo normal. 

Acho que deu para perceber que meus motivos vão muito além de ser "fresca" com a alimentação da minha filha, mas mesmo se o motivo fosse só esse ainda assim deveria ser respeitado. A quantidade de crianças obesas e diabéticas em nosso país só aumenta - se bons hábitos alimentares começassem na infância seria muito mais fácil evitar essas doenças (e muitas outras).
As pessoas deveriam então parar de oferecer qualquer alimento para crianças? Seria o ideal, mas para começar tem algo mais simples que todos já podem fazer e agrada todos os tipos de pais: SEMPRE consulte os pais antes de oferecer qualquer coisa a uma criança - uma medida simples como essa evita muitos problemas, demonstra bom senso e pode ser o detalhe que realmente fideliza um cliente Leitura complementar: "Sem açucar, com afeto - por que não dar açucar para o bebê" http://nutricionistainfantil.blogspot.com.br/2012/07/sem-acucar-com-afeto-ou-porque-nao-dar.html?spref=fb

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Enxoval consciente e minimalista para o bebê que chega

NA VISÃO DA ALAYA

Gravei 2 vídeos comentando cada um desses itens, mostrando e falando de como foi o uso pra mim. Os vídeos são esses:
ENXOVAL parte 1

ENXOVAL parte 2

(Segue abaixo uma lista organizada dos itens)

Itens de extrema necessidade

- colo

- peito
- carinho e disponibilidade

          “Ser carregadas, embaladas, acariciadas, tocadas, massageadas, cada uma dessas coisas é alimento para as crianças pequenas. Tão indispensáveis, se não mais, que vitaminas, sais minerais e proteínas. Quando são privadas de tudo isso e do cheiro e do calor e da voz que tão bem conhecem, as crianças, ainda que estejam fartas de leite, se deixam morrer de fome” – Fréderique  Leboyer, Shantala.

(Economizar um $ pra contratar um obstetra humanizado, uma enfermeira obstetra, e uma doula! Isso sim faz toda a diferença!)

Itens de primeira necessidade (a medida que vai usando e sentindo falta dá pra sair com o bebê e comprar mais):

-  ROUPAS
      - pelo menos 6 bodies de manga curta + 6 manga longa (eu teria pelo menos 2 de cada tamanho RN,)
      - 6 calças (pode ser tipo mijão com pezinho ou não)
      - 3 macacões de algodão
      - 3 macacões mais quentinhos (plush, fleece etc)
      - 6 pares de meia
      - 2 casaquinhos
      - 2 mantas algodão
      - 6 fraldas de pano tipo cremer
      - 6 toalhas fralda (uma fralda de pano maior)
      - 6 paninhos de boca
      - 2 toalhas com capuz
      - 2 lençois de baixo pra berço (caso for usar)
      - 2 cobertores quentinhos

( o resto varia pela estação, macacãozinho curto pra tomar sol nas pernas ou um short, um casaquinho diferente, touquinha pra cabeça se for inverno, mas o que mais usa mesmo é body, calça, macacão, meia. O resto é enfeite, vestido, etc)

- HIGIENE

      - kit cortar unha (tesourinha romba, lixa, trim)
      - cotonete para o coto do cordão umbilical
      - algodão
      - potinho ou copo comum usado pra colocar água morna
      - álcool 70% (vai usar pouco)
      - soro fisiológico (é bom ter caso o bebê fique com nariz entupido)
      - lenço umedecido (pra usar na rua e em emergências)
      - maizena
      - pomada de calêndula da Weleda pra usar apenas quando estiver vermelho (e não a cada troca)
      - sabonete neutro de glicerina
      - pente
      - 1 lixeira com pedal (12-15L)
      - 1 porta roupa suja (usei um baratinho dobravel que achei por uns 8 reais)
      - 1 potinho plastico com tampa pra colocar o algodão e cotonete sujos na hora da troca
      - 1 balde de banho (ofurô)
      - 1 banheira
      - 1 trocador portátil
   
- QUARTO que o bebê vai dormir
     - abajour
     - berço colado na cama / ou moisés ao lado da cama / ou cama compartilhada direto
     - babá eletrônica (eu não tive e não senti falta, mas teria se morasse numa casa grande ou já tivesse 1 filho, pois é preciso ouvir o bebê nas sonecas do dia também)

- PASSEIO E BRINCADEIRAS
     - SLING (wrap, ou de argola - tive 1 de cada pois foi um item que usei todos os dias!)
     - carrinho de passeio SIMPLES, leve, fácil de dobrar e transportar (praticamente não usei)
     - bebechila (mochila para carregar as coisas do bebê)
     - bebê conforto (obrigatório para usar no carro)
     - mei-tai ou ergobaby (somente após o 6º mês!)
     - tapete emborrachado (ou aqueles tapetes de vinil que da pra comprar em metro na leroy)
     - 2 mordedores
     - 1 chocalho
     - 1 penduricalho pro carrinho ou bebê conforto

- ALIMENTAÇÂO
     - PEITO
     - peito
     - peito
     - telefone de uma consultora de amamentação e do banco de leite do hospital da cidade
     - absorvente de seio (pelo menos 1 caixa, depois pode precisar mais/ ou lavável, reutilizável)
     - copinho daqueles tipo de cachaça (ou mamadeira de colher dosadora)
     - 4 sutiãs de amamentação (achei os cruzados que é só abaixar melhores do que os que tem fivela pra desencaixar na frente)
     - potes de vidro com tampa plástica para armazenar leite materno congelado
     - tira-leite (bomba de extração - me adaptei bem com a elétrica matern-milk, nacional, barata, e foi usada todos os dias durante meses)
     - 4 babadores (após 6º mês). Gostei muito dos de silicone com uma aba 'cata comida', e dos de tecido plastico de manga comprida que cobrem mais a roupa
     - copinho de bico rígido sem válvula para usar após o 6º mês





sobre FRALDAS

- se for usar a fralda de PANO MODERNA, tenha pelo menos 20 (lembrando que as de tamanho único só começam a servir bem após certo peso do bebê, 4 ou 5kg - eu usei 2 pacotes de fralda descartável RN)
- no caso das descartáveis, lembre que o recém nascido troca muita fralda (umas 8 por dia), e as tamanho RN costumam durar apenas um mês e o bebê já passa pra P.
 

NÃO USEI, não usaria, e não recomendo o uso

- Mamadeiras , de qualquer tipo de bico e modelo! (e seus acessórios, limpadores, dosadores, aquecedores etc etc)
- Chupetas
- Andador (proibido e perigoso)
- Canguru tradicional (faz mal pro bebê, a postura não é ergonomica, aposte no sling)
- Bolsa do bebê de pendurar no ombro
- Garrafa térmica
- Enfeite de Porta
- Protetor de berço (kit berço não é recomendado)
- móbile de berço (o bebê estava comigo quando estava acordado)
- Sapatos
- Roupas tipo pagão ou com botões atrás e enfeites demais, nada práticas.
- Saída de maternidade (caro e desnecessário, um macacão bonitinho resolve)
- colônia pra bebê
- Firulas!








segunda-feira, 25 de maio de 2015

Tudo (ou quase tudo) que você precisa entender sobre o que é parto humanizado!

Em 2013, no meu canal do Youtube, eu postei um vídeo explicando o que é o Parto Humanizado, pois muitas pessoas acham que isso é um tipo de parto, uma modalidade, um estilo, e não um conceito que envolve tantas coisas importantes para as mulheres! É muito estranho cada vez que vejo alguem dizendo que "quer um parto normal mas não esses humanizados" (me pergunto, "como assim, você quer ser maltratada e não ter voz de decisão?!") Então tive a ideia de gravar esse vídeo pra ajudar as pessoas a entenderem o que é isso que está tão em voga hoje em dia.


Uma jornalista viu meu vídeo e me contactou para que eu respondesse algumas perguntas que ela transformaria em matéria para um site voltado a saúde da mulher. O resultado ficou bom e está aqui http://www.dicasdemulher.com.br/parto-humanizado/


Procurei desenvolver mais as respostas e transformei o questionário nesse post. 


- O que é um parto humanizado? (princípios)

      O conceito central do parto humanizado gira em torno da restituição do protagonismo da mulher. Ela deve ter acesso a informações verdadeiras e de qualidade, ser respeitada em sua individualidade enquanto sujeito emocional e cultural, e não deve ser feito nada com o corpo dela sem seu completo consentimento. No parto humanizado o profissional responsável pelo atendimento é um guia do processo, ele trabalha em parceria com a mulher e respeita as escolhas e vontades dela dentro do possível, orientando as decisões e não simplesmente impondo protocolos (muitas vezes estes desatualizados). 
     Esse profissional compreende que o parto é um evento fisiológico e natural e que a maior parte das mulheres (cerca de 85%) conseguirão parir sem nenhuma ou quase nenhuma intervenção, é um profissional que acredita na força e capacidade da mulher de dar à luz ao seu próprio filho e que não a diminui de forma alguma nem a aliena do processo e das decisões, muito menos trata a gestação como uma doença. 
     No parto humanizado a mulher costuma ser atendida por uma equipe multiprofissional, e esses profissionais estão alinhados com o que há de mais recente e atualizado em termos de evidência científica no atendimento obstétrico. É esse tripé - respeito as evidências científicas, atendimento multidisciplinar e respeito ao protagonismo da mulher - que forma o conceito de parto humanizado

- Como costuma ser feito? ( como costuma ser também o momento de preparação para o parto humanizado? E o pós parto?)

     É importante haver um bom pré-natal, de modo que haja segurança nas tomadas de decisões e possa-se determinar a condução correta do atendimento. A mulher que busca um atendimento humanizado sabe da importância de um bom acompanhamento da gestação. Um profissional humanizado não costuma pedir exames desnecessários (o excesso de exames sem necessidade, que só aumentam a ansiedade das mulheres, tem sido uma prática comum no Brasil), mas sabe avaliar quando um caso necessita de maior investigação. Muitas mulheres sentem que estão se preparando para um parto humanizado ao fazer yoga ou alguma atividade do tipo (que é ótima pra gestação), porém isso não basta para garantir umparto normal respeitoso. A preparação principal está na busca de informação, de grupos de apoio, de doulas e da escolha de um profissional alinhado com as evidências. É um preparar a si mesma internamente, pois as portas só se abrem de dentro para fora.
     Não há uma regra sobre como fazer um parto humanizado, ele não é uma técnica ou posição específica, não tem relação com o bebê nascer de cócoras ou na água, em casa ou no hospital, com o auxilio do pai ou de uma amiga. Diz mais a respeito de como o atendimento é feito a mulher. O profissional humanizado entende que está ali para ajudar a mulher, mas que ela é a personagem principal dessa história. Cabe a ela escolher a melhor posição, e decidir quem quer de acompanhante. Um profissional humanizado interfere apenas quando necessário, de acordo com seu conhecimento mais atualizado, e sempre em dialogo com a mulher, nunca de forma autoritária.
    Em uma gestação saudável o parto humanizado pressupõe respeitar o tempo do bebê (esperar a mulher entrar em trabalho de parto sem dar limites arbitrários para isto), respeitar o tempo da mãe em trabalho de parto (monitorar o bem estar fetal pelo tempo que for necessário, sem estipular um limite de horas em que o bebê precisa nascer), não usar medicações para interferir no processo fisiológico se não forem estritamente necessárias, não realizar episiotomia, não empurrar a barriga da mulher, permitir que coma, que ande, que vocalize, que grite, que se expresse como ela achar melhor. Parto humanizado é compreender que a mulher sabe parir, e usar os conhecimentos médicos apenas para dar suporte quando necessário.

      O pós parto de quem teve um parto humanizado não é necessariamente diferente de outro pós parto, porém é mais comum que essas mulheres, por já estarem em um movimento questionador e buscando informações diferenciadas, estejam mais engajadas em amamentar e muitas vezes façam escolhas que fogem do senso comum no que diz respeito a criação dos bebês.

- Um parto humanizado pode ser feito tanto em casa quanto no hospital?


      O que determina a humanização de um parto é a condução deste, e não o local, portanto ele pode ocorrer tanto em casa quanto no hospital. Se houver respeito à autonomia da mulher, tratamento acolhedor e não violento, e atendimento atualizado por parte do profissional, pode-se dizer via de regra que o parto foi humanizado. 
     Um parto humanizado não precisa ser em casa, não precisa ser na banheira ou ter música e luz de velas, ele diz respeito principalmente à permitir que a mulher possa parir da melhor forma possível para ela e que nenhuma intervenção seja feita no corpo dela sem que haja real necessidade e sem que ela compreenda e aceite. No parto humanizado há confiança e dialogo entre a gestante e o profissional que a atende.

- Todo parto normal é humanizado?

     Infelizmente no Brasil a maioria dos partos normais é cercado de violência obstétrica, isto é, agressões verbais, e emocionais (caras feias para a mulher, repreensões ao comportamento dela, trata-la como se fosse um objeto, ignorar seus desejos, medos e dúvidas, isola-la, não permitir acompanhante) e também agressões físicas na forma de impedir que a mulher tenha liberdade de movimentação, obriga-la a ficar em uma posição que não é a mais confortável para ela, e executar no corpo dela ações invasivas e dolorosas sendo estas obsoletas e inadequadas em termos de melhores práticas de acordo com a evidência científica, como empurrar sua barriga ou cortar seu períneo ou impedir que se alimente e beba água. Um parto normal pode ser humanizado ou ser extremamente violento. O movimento pelo parto humanizado busca que as mulheres sejam respeitadas em um dos momentos mais importantes de suas vidas, não é o parto normal de qualquer jeito.

- Uma cesárea pode ser humanizada?

      Humanização do parto pressupõe protagonismo da mulher, pressupõe que ela tenha voz ativa nas ações e escolhas sobre si e seu corpo; e também pressupôe respeito à ciência. Assim, uma mulher pode, mesmo com acesso a todas as informações, escolher para si uma cesárea, porém uma cesárea feita sem necessidade médica real, com todos os riscos inerentes a essa ação, não pode ser considerada uma ação humanizada. Em uma cesárea a mulher é passiva nas ações, ela não toma parte nos acontecimentos, ela é submetida a procedimentos dos quais não tem controle. Uma cesárea pode ser respeitosa quando feita com indicação, pode ser necessária, pode ser amorosa e humana. 
     Há procedimentos que o profissional pode fazer para minimizar os danos da cesárea, como permitir que a mãe tenha contato imediato com o bebê, ou baixar as luzes na hora do nascimento, mas uma cesárea não é um parto humanizado. Uma cesárea feita fora do trabalho de parto, agendada, não é humanizada, é contra  a ciência e submete a mãe e o bebê a maiores riscos. É importante lembrar que humanização não tem relação com ser meramente carinhoso com a gestante, mas respeitar as indicações com base em uma medicina atualizada e científica. Quando necessária (cerca de 15% das vezes) e bem indicada ela pode ser respeitosa, e salvar uma vida.

- Quais são, em sua opinião, as vantagens de apostar no parto humanizado?


  • É levar para o resto da vida, em cada aniversário do seu filho/a a lembrança de um dia que foi especial, sem sofrimento, cercado de amor e respeito. 
  • É dar o melhor de si, e buscar o melhor para o seu bebê; 
  • É se submeter a menos riscos e ter mais benefícios. 
  • É ter mais chance de um nascimento saudável, um bebê respeitado e trazido ao mundo cercado de carinho.  
  • É não ter seu corpo submetido a dores desnecessárias e procedimentos invasivos, e a confiança de que ofereceu o melhor (e que garante mais saúde) para seu filho e para si mesma. 

     Não se trata apenas de uma recuperação melhor, mais sucesso na amamentação, menos chances de sofrer com depressão pós parto, menos riscos numa próxima gestação ou um bebê com melhor sistema imunológico, é muito mais que isso! Qual seria a vantagem de um parto NÃO humanizado? Nenhuma! 
    Todo parto deveria ser humanizado, não deveriamos ter que lidar com a violência nesse momento tão especial e delicado. Todo parto deveria ser atualizado, com profissionais que visam a saúde, e estão bem fundamentados em suas práticas. Todo parto deveria ser celebrado com amor, e respeito à autonomia e individualidade de cada mulher. 


- No parto humanizado, que profissionais participam/podem participar do processo?



      No caso de gestações de baixo risco (ou risco habitual) é possível que o parto seja acompanhado por enfermeiras obstetras ou obstetrizes. Esse é o modelo de assistência na Austrália e em vários países europeus. Quando a gestação se torna de risco ou o parto pede intervenções mais invasivas, é importante que haja um médico obstetra. Em partos naturais tanto obstetras quanto enfermeiras obstetras e obstetrizes estão capacitados para efetuar o atendimento. Algumas mulheres escolhem contratar também pediatras humanizados, pois muitas vezes as intervenções feitas no bebê logo após o nascimento também são invasivas e desnecessárias, e os pais querem proteger seus bebês disso, por isso procuram pediatras atualizados. Além disso a presença de uma doula auxilia muito na diminuição da dor e na satisfação da mulher com seu parto. 

https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEgjqROa2D_FwBCrxsJcLtwNcX84QrcfNpbWFkHEUeiQF0MoY1R49uAeJF65mn9DcZVrY4FuanHT4E4lIk5ZiHySMyuMObOg8Vtih6-_fhwRJVUSS_nrOGhoCA2hr97_VGRG2xHZAyyq60a3iH04XHmXChW52g-h9QN3Q7R0=s0-d-e1-ft

terça-feira, 5 de maio de 2015

Relato de Parto do Arthur, por Simone Ritter

Eu não conheço a Simone, ela é amiga da Nathaly (cujo primeiro parto eu fui a doula), e a gente se 'esbarrou' por aí. A Simone pariu de um parto super parido, bem na época que eu estava super absorta no puerpério (meu pós parto). Eu idealizei que minha filha nascesse no chuveiro de casa, e uma foto da Simone me tocou la no fundo da alma, pedi autorização pra ela e usei a foto nesse post http://alaya77.blogspot.com.br/2015/02/o-bebe-que-nao-nasceu-no-chuveiro.html

E ai ela sugeriu que eu colocasse o relato de parto dela aqui no blog também, então aí vai!




“Quando você está em contato com sua força interior todo o Universo conspira a seu favor.”
“Calma, tudo vai dar certo, seja como for, será o melhor.”
“Não vim até aqui para desistir agora.”
“Bebês sabem nascer, mulheres sabem parir.”
“Arthur escolherá a data dele, só dele.”

Frases que entoava para me empoderar... um mantra de força e fé em meus propósitos.
Há 10 anos atrás decidi que queria um parto humanizado, tomei minha decisão depois de ver tantas mulheres parindo felizes (trabalhava na maternidade do HU de Florianópolis/SC), depois de participar da I Conferência de Humanização do Parto e Nascimento, depois de conhecer pessoalmente Michel Odent e apresentar meu primeiro trabalho científico sobre a importância do aleitamento materno para o vínculo mãe-bebê. Era minha decisão! 

Daí que vim para Brasília, daí que engravidei (uma feliz surpresa, pois teria deficiência de hormônios para engravidar) e daí que veio o susto: parir humanizado em BSB era caro demais e quase uma miragem! Relutei, passei por vários obstetras, alguns tentaram me enganar, outros foram sinceros avisando que só fazem cesárea... desespero! Mas eu sabia o que eu queria! Deixei claro para toda família, não admitia uma cirurgia para ter meu filho a não ser que fosse estritamente necessária (uns 5 casos reais).

Fiz todo meu pré natal com atenção, cuidei da alimentação, pratiquei atividades físicas, porque eu sabia que daria certo, que no final iria dar certo... só não sabia para onde correr, pois tive tantos “nãos”, tantas decepções com profissionais... massss sabia que bebês nascem sozinhos!

Conheci Nathaly Suellen, uma pessoa irradiante que me iluminou e em meio ao meu desespero por um parto respeitoso ela me deu as direções e tudo começou a acontecer! É meu anjo na Terra, minha madrinha de parto. Nathy e sua família para sempre farão parte de nossa história.

Com umas 36 semanas e sem obstetra que me respeitasse, meu marido também cansado da peregrinação, aceitou o parto domiciliar planejado. Contratamos equipe, fotografa, doula... compramos materiais do parto, tudo certo. Estava tranquila, sabia que tudo iria dar certo! Trabalhei minha psique para esperar até 42 semanas, para um trabalho de parto longo, para possíveis complicações, para hemorragias, para não aguentar a dor, enfim, pensei no que poderia ser complicador e buscava tranquilidade para lidar com qualquer situação. Afinal, “bebês nascem sozinhos... tudo vai dar certo, seja como for.”

Quarta, 21/01, com 39 semanas tive consulta, tudo perfeito, me sentia ótima, nada de tampão, nem pródromos, ainda tinha aula de hidro à noite... td indicava que Arthur esperaria mais um pouco... Ledo engano!

Na mesma noite, 21/01 umas 23h quando dançava na sala de minha casa, ao som de “Bailando” de Enrique Iglesias (sim, adorava dançar com minha barriga lindona), senti uma primeira cólica... hummm talvez eram os pródromos... vinha e passava rápido... Liguei para a enfermeira obstetra, fui orientada a descansar, pois poderia ser início de trabalho de parto e como era primípara poderia ser muito longo.

Fui tentar dormir... mandei zap para todos (enfermeiras, doula, obstetra, fotógrafa), que o Arthur poderia estar a caminho... contrações irregulares...
Tentei dormir, acordei umas 2h da madrugada e a “dorzinha” já havia aumentado e estava realmente incomodando... coloquei compressa quente no pé da barriga e não aliviava... comecei a me sentir fragilizada... acordei marido... e dizia que algo estava errado... não podia sentir aquela dor logo de início, eu ainda teria muito trabalho pela frente... Arthur poderia demorar dias ainda para nascer e eu estava reclamando das “cólicas”.

Por volta de umas 4h da madruga senti que poderiam ser as contrações... mas era uma dor estranha, pouco intervalo, eu ainda queria ficar bonitona para o parto (sim, parto humanizado pode ser com batom na boca, e daí?), mas cadê o intervalo para isso? Estava perdida ... e pensei “Como essa mulherada aguenta mais de um dia com essas dores?” fiquei com vergonha de mim... não sabia o que estava acontecendo, mas fiquei com vergonha de ser fraca, de começar a pensar na cesárea... a dor aumentava... eu só sabia que algo estava errado comigo, com meu corpo... o tampão não tinha saído, a bolsa não tinha estourado e eu com aquelas dores... E eu pensava “não acredito que não sou mulher pra isso”. “Será que estou sentindo mais dor porque comi feijão e deu gases?” “Algo está errado, isso não está certo” Enfim... lembrei de vocalizar... fui para chuveiro para acalmar a dor... mas ela não acalmava.

Madrugada avançou e disse ao marido para avisar ao povo porque estava com muita dor e não sabia o que era... eu achava que estava começando o trabalho de parto, sentia vontade de fazer força, embora sabia que era cedo demais, eu iria ficar muito cansada, mas não havia o que fazer, não podia controlar... os puxos vinham... fazia força. 

5:40h saiu o tampão, lembrei de guardar para mostrar para a Nascentia quando o dia amanhecesse e as profissionais chegassem... em minutos senti vontade de ficar de quatro e 6:04h “ploc” estourou a bolsa e alagou meu quarto... líquido clarinho, perfeito, alívio, não havia nada de estranho! Pensei: “começou mesmo o trabalho de parto”... preciso aguentar porque vai longe isso...

Senti algo me pressionando... e pensei “meu Deus, o que tenho de errado? Será que são meus órgãos saindo para fora? Será que tenho alguma deficiência?” “porque sou tão fraca?” Tentei sentir o que era, não senti os cabelinhos de meu filho, e fiquei atordoada, não podia ser meu bebê, estava cedo demais e então, fui para chuveiro, chamei o marido e senti pegar fogo... era ele... o Círculo de Fogo... senti queimando de felicidade e medo... não sentia os cabelinhos da cabecinha do Arthur, pensei “minha nossa senhora me ajuda que acho que o Arthur está vindo de bundinha Jesus nos acude”! Marido olhou e era mesmo, nosso bebê, mas estava com a cabecinha apontando, ufa, não estava pélvico! Era meu novo ser, meu pequeno, meu reizinho, menos cabeludinho do que pensei ehhehe”

Por instinto, fiquei de cócoras e senti os puxos denovo; 6:28h nosso filho deslizou suave, gostoso, Vicente, o pai, recebeu nosso filho de meu interior direto em seus braços e falava eufórico, muito emocionado: “é nosso bebê, é nosso Arthur amorzinha... tu é uma guerreira, tu é uma guerreira, tu aguentou tudo sozinha...” E eu pensando que não aguentava a dor… mal sabia que já estava era parindo mesmo!

Papai deu minha cria em meus braços, Arthur chorou um choro gostoso, de amor, de vida, de respeito, de luz e nós choramos juntos! Vicente correu, tirou foto e avisou a equipe: venham conhecer, Arthur nasceu. Eu estava em transe, não acreditava que era verdade... era mais que felicidade, era perfeito, era sim a força do Universo conspirando a nosso favor. O parto não foi o que eu pensava, nem o que tinha programado, foi imensamente melhor!

Choveu no instante que Arthur nasceu, após muita seca em pleno janeiro de Brasília, choveu quando nosso bebê nasceu... e Nathaly ligou, sem ninguém a avisar ela perguntou se o Arthur havia nascido... ela sabia tudo, ela sentia tudo e ela também havia sonhado que ele nasceria assim, ao amanhecer do dia. Nosso anjo na Terra, nossa madrinha de parto!

Nasceu! Arthur nasceu! Eu nasci, Vicente nasceu! Todos nascemos juntos! Em casa, em nosso banheiro! Um perfeito bonding. No aconchego do nosso lar, com calma, paz, amor, sem correrias... nasceu da melhor forma possível, não quis esperar ninguém, queria que fosse só nós três. 

E assim foi nossa história! Arthur nasceu quando ele quis, nasceu rapidinho, antes de todos chegarem... foi um parto desassistido de profissionais e iluminado pelos instintos, embalado pela natureza, só ela, que foi perfeita. Não teve massagem para as dores, não teve instruções do que fazer, não teve piscina com água quente, não teve aromaterapia, não teve cromoterapia, não teve profissional de fotografia, nada disso. Marido Vicente foi excelente, foi transformador, me ajudava dizendo que eu era forte, que eu sempre enfrentava tudo, que iria dar certo, que logo a equipe chegaria, fez eu acreditar que daria certo. Meu marido foi doula, obstetra, parteiro, um homem inteiro, completo, perfeito. 

Cinco minutos de nascimento do Arthur e chegou a Nascentia! Fiquei com meu bebê agarradinho em mim, Arthur com nota máxima: Apgar 10, veio com 3.100kg, 48cm, uma lindeza! Batimentos excelentes, bebê corado, tudo perfeito! Amém! Lembro da Lara olhando apavorada e dizendo: que lindo! Eu lembro que sorria, só sorria, era tudo alegria! 

Resumindo, pari feliz! Sou primípara, meu trabalho de parto total durou das 23h de 21/01 (cólicas suaves) até 6:28h do dia seguinte (nascimento), ou seja, 7h e 30 minutos totais; não tenho mínima noção de que fase começou uma coisa e terminou outra e tb não contei as contrações direito... mal sabia o que estava acontecendo, como eu contaria isso direito? Tive laceração superficial de mucosa, não tive hemorragia. E quer saber? Mal vejo a hora de parir denovo! Agora sim sinto-me uma mulher completa e muito, muito cheia de bençãos!
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