terça-feira, 5 de maio de 2015

Relato de Parto do Arthur, por Simone Ritter

Eu não conheço a Simone, ela é amiga da Nathaly (cujo primeiro parto eu fui a doula), e a gente se 'esbarrou' por aí. A Simone pariu de um parto super parido, bem na época que eu estava super absorta no puerpério (meu pós parto). Eu idealizei que minha filha nascesse no chuveiro de casa, e uma foto da Simone me tocou la no fundo da alma, pedi autorização pra ela e usei a foto nesse post http://alaya77.blogspot.com.br/2015/02/o-bebe-que-nao-nasceu-no-chuveiro.html

E ai ela sugeriu que eu colocasse o relato de parto dela aqui no blog também, então aí vai!




“Quando você está em contato com sua força interior todo o Universo conspira a seu favor.”
“Calma, tudo vai dar certo, seja como for, será o melhor.”
“Não vim até aqui para desistir agora.”
“Bebês sabem nascer, mulheres sabem parir.”
“Arthur escolherá a data dele, só dele.”

Frases que entoava para me empoderar... um mantra de força e fé em meus propósitos.
Há 10 anos atrás decidi que queria um parto humanizado, tomei minha decisão depois de ver tantas mulheres parindo felizes (trabalhava na maternidade do HU de Florianópolis/SC), depois de participar da I Conferência de Humanização do Parto e Nascimento, depois de conhecer pessoalmente Michel Odent e apresentar meu primeiro trabalho científico sobre a importância do aleitamento materno para o vínculo mãe-bebê. Era minha decisão! 

Daí que vim para Brasília, daí que engravidei (uma feliz surpresa, pois teria deficiência de hormônios para engravidar) e daí que veio o susto: parir humanizado em BSB era caro demais e quase uma miragem! Relutei, passei por vários obstetras, alguns tentaram me enganar, outros foram sinceros avisando que só fazem cesárea... desespero! Mas eu sabia o que eu queria! Deixei claro para toda família, não admitia uma cirurgia para ter meu filho a não ser que fosse estritamente necessária (uns 5 casos reais).

Fiz todo meu pré natal com atenção, cuidei da alimentação, pratiquei atividades físicas, porque eu sabia que daria certo, que no final iria dar certo... só não sabia para onde correr, pois tive tantos “nãos”, tantas decepções com profissionais... massss sabia que bebês nascem sozinhos!

Conheci Nathaly Suellen, uma pessoa irradiante que me iluminou e em meio ao meu desespero por um parto respeitoso ela me deu as direções e tudo começou a acontecer! É meu anjo na Terra, minha madrinha de parto. Nathy e sua família para sempre farão parte de nossa história.

Com umas 36 semanas e sem obstetra que me respeitasse, meu marido também cansado da peregrinação, aceitou o parto domiciliar planejado. Contratamos equipe, fotografa, doula... compramos materiais do parto, tudo certo. Estava tranquila, sabia que tudo iria dar certo! Trabalhei minha psique para esperar até 42 semanas, para um trabalho de parto longo, para possíveis complicações, para hemorragias, para não aguentar a dor, enfim, pensei no que poderia ser complicador e buscava tranquilidade para lidar com qualquer situação. Afinal, “bebês nascem sozinhos... tudo vai dar certo, seja como for.”

Quarta, 21/01, com 39 semanas tive consulta, tudo perfeito, me sentia ótima, nada de tampão, nem pródromos, ainda tinha aula de hidro à noite... td indicava que Arthur esperaria mais um pouco... Ledo engano!

Na mesma noite, 21/01 umas 23h quando dançava na sala de minha casa, ao som de “Bailando” de Enrique Iglesias (sim, adorava dançar com minha barriga lindona), senti uma primeira cólica... hummm talvez eram os pródromos... vinha e passava rápido... Liguei para a enfermeira obstetra, fui orientada a descansar, pois poderia ser início de trabalho de parto e como era primípara poderia ser muito longo.

Fui tentar dormir... mandei zap para todos (enfermeiras, doula, obstetra, fotógrafa), que o Arthur poderia estar a caminho... contrações irregulares...
Tentei dormir, acordei umas 2h da madrugada e a “dorzinha” já havia aumentado e estava realmente incomodando... coloquei compressa quente no pé da barriga e não aliviava... comecei a me sentir fragilizada... acordei marido... e dizia que algo estava errado... não podia sentir aquela dor logo de início, eu ainda teria muito trabalho pela frente... Arthur poderia demorar dias ainda para nascer e eu estava reclamando das “cólicas”.

Por volta de umas 4h da madruga senti que poderiam ser as contrações... mas era uma dor estranha, pouco intervalo, eu ainda queria ficar bonitona para o parto (sim, parto humanizado pode ser com batom na boca, e daí?), mas cadê o intervalo para isso? Estava perdida ... e pensei “Como essa mulherada aguenta mais de um dia com essas dores?” fiquei com vergonha de mim... não sabia o que estava acontecendo, mas fiquei com vergonha de ser fraca, de começar a pensar na cesárea... a dor aumentava... eu só sabia que algo estava errado comigo, com meu corpo... o tampão não tinha saído, a bolsa não tinha estourado e eu com aquelas dores... E eu pensava “não acredito que não sou mulher pra isso”. “Será que estou sentindo mais dor porque comi feijão e deu gases?” “Algo está errado, isso não está certo” Enfim... lembrei de vocalizar... fui para chuveiro para acalmar a dor... mas ela não acalmava.

Madrugada avançou e disse ao marido para avisar ao povo porque estava com muita dor e não sabia o que era... eu achava que estava começando o trabalho de parto, sentia vontade de fazer força, embora sabia que era cedo demais, eu iria ficar muito cansada, mas não havia o que fazer, não podia controlar... os puxos vinham... fazia força. 

5:40h saiu o tampão, lembrei de guardar para mostrar para a Nascentia quando o dia amanhecesse e as profissionais chegassem... em minutos senti vontade de ficar de quatro e 6:04h “ploc” estourou a bolsa e alagou meu quarto... líquido clarinho, perfeito, alívio, não havia nada de estranho! Pensei: “começou mesmo o trabalho de parto”... preciso aguentar porque vai longe isso...

Senti algo me pressionando... e pensei “meu Deus, o que tenho de errado? Será que são meus órgãos saindo para fora? Será que tenho alguma deficiência?” “porque sou tão fraca?” Tentei sentir o que era, não senti os cabelinhos de meu filho, e fiquei atordoada, não podia ser meu bebê, estava cedo demais e então, fui para chuveiro, chamei o marido e senti pegar fogo... era ele... o Círculo de Fogo... senti queimando de felicidade e medo... não sentia os cabelinhos da cabecinha do Arthur, pensei “minha nossa senhora me ajuda que acho que o Arthur está vindo de bundinha Jesus nos acude”! Marido olhou e era mesmo, nosso bebê, mas estava com a cabecinha apontando, ufa, não estava pélvico! Era meu novo ser, meu pequeno, meu reizinho, menos cabeludinho do que pensei ehhehe”

Por instinto, fiquei de cócoras e senti os puxos denovo; 6:28h nosso filho deslizou suave, gostoso, Vicente, o pai, recebeu nosso filho de meu interior direto em seus braços e falava eufórico, muito emocionado: “é nosso bebê, é nosso Arthur amorzinha... tu é uma guerreira, tu é uma guerreira, tu aguentou tudo sozinha...” E eu pensando que não aguentava a dor… mal sabia que já estava era parindo mesmo!

Papai deu minha cria em meus braços, Arthur chorou um choro gostoso, de amor, de vida, de respeito, de luz e nós choramos juntos! Vicente correu, tirou foto e avisou a equipe: venham conhecer, Arthur nasceu. Eu estava em transe, não acreditava que era verdade... era mais que felicidade, era perfeito, era sim a força do Universo conspirando a nosso favor. O parto não foi o que eu pensava, nem o que tinha programado, foi imensamente melhor!

Choveu no instante que Arthur nasceu, após muita seca em pleno janeiro de Brasília, choveu quando nosso bebê nasceu... e Nathaly ligou, sem ninguém a avisar ela perguntou se o Arthur havia nascido... ela sabia tudo, ela sentia tudo e ela também havia sonhado que ele nasceria assim, ao amanhecer do dia. Nosso anjo na Terra, nossa madrinha de parto!

Nasceu! Arthur nasceu! Eu nasci, Vicente nasceu! Todos nascemos juntos! Em casa, em nosso banheiro! Um perfeito bonding. No aconchego do nosso lar, com calma, paz, amor, sem correrias... nasceu da melhor forma possível, não quis esperar ninguém, queria que fosse só nós três. 

E assim foi nossa história! Arthur nasceu quando ele quis, nasceu rapidinho, antes de todos chegarem... foi um parto desassistido de profissionais e iluminado pelos instintos, embalado pela natureza, só ela, que foi perfeita. Não teve massagem para as dores, não teve instruções do que fazer, não teve piscina com água quente, não teve aromaterapia, não teve cromoterapia, não teve profissional de fotografia, nada disso. Marido Vicente foi excelente, foi transformador, me ajudava dizendo que eu era forte, que eu sempre enfrentava tudo, que iria dar certo, que logo a equipe chegaria, fez eu acreditar que daria certo. Meu marido foi doula, obstetra, parteiro, um homem inteiro, completo, perfeito. 

Cinco minutos de nascimento do Arthur e chegou a Nascentia! Fiquei com meu bebê agarradinho em mim, Arthur com nota máxima: Apgar 10, veio com 3.100kg, 48cm, uma lindeza! Batimentos excelentes, bebê corado, tudo perfeito! Amém! Lembro da Lara olhando apavorada e dizendo: que lindo! Eu lembro que sorria, só sorria, era tudo alegria! 

Resumindo, pari feliz! Sou primípara, meu trabalho de parto total durou das 23h de 21/01 (cólicas suaves) até 6:28h do dia seguinte (nascimento), ou seja, 7h e 30 minutos totais; não tenho mínima noção de que fase começou uma coisa e terminou outra e tb não contei as contrações direito... mal sabia o que estava acontecendo, como eu contaria isso direito? Tive laceração superficial de mucosa, não tive hemorragia. E quer saber? Mal vejo a hora de parir denovo! Agora sim sinto-me uma mulher completa e muito, muito cheia de bençãos!

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